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terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

A importância estratégica da Comunicação nas iniciativas sociais para 2021

Arquivo pessoal


O jornalista Fábio Leon, 44 anos, formado pelo Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro (UniverCidade) e assessor de comunicação do Fórum Grita Baixada (FGB), não cai na zona de conforto e se lança a novos desafios. Jornalista exigente consigo mesmo, estudava tutoriais do Youtube após o expediente, dormindo quase sempre às duas da manhã. Morador de Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense, Fábio nos conta sobre seu envolvimento jornalístico com as mídias comunitárias e faz uma análise sobre a importância estratégica da Comunicação nas iniciativas sociais e de que forma ela será fundamental em 2021.

Gecom: Conte um pouco sobre seus trabalhos de Comunicação que o levaram a se envolver com as mídias comunitárias.

Fábio Leon: Durante a minha vida profissional, eu trabalhei em três jornais de bairro. Um como estagiário e dois como editor e jornalista responsável. O primeiro, na Zona Sul do Rio, o segundo, na região central da cidade, e o terceiro, na Zona Norte, mais precisamente na Tijuca. Na faculdade, meus professores diziam que a melhor escola de jornalismo fora do meio acadêmico são os jornais comunitários, pois eles são o termômetro dos chamados problemas sociais hiperlocais. Então, optei por seguir esse caminho. Não queria chegar em uma  empresa jornalística mais estruturada totalmente despreparado. Portanto, a experiência em jornais de bairro/comunitários me parecia algo que deveria ser explorado com seriedade. Eram políticas editoriais bem curiosas, pois, ao mesmo tempo em que se concentravam em acontecimentos específicos de um bairro, como a mudança de um posto do INSS sem aviso prévio, por exemplo, tentavam também disputar com as “hard news”. Esse, pelo menos era um papel que eu tentava desempenhar da melhor forma possível e os donos desses jornais apenas se preocupavam se eu conseguiria cumprir com a pauta. As mídias comunitárias são o laboratório básico e essencial para o desenvolvimento de todo bom jornalista. É ali que a sua aptidão como profissional vai começar a ser medida.

Em 2017, depois de uma passagem de quatro anos na Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Governo do Estado, desempenhando, entre 2011 e 2015, o cargo de gestor social assistente do programa Territórios da Paz, que fazia um trabalho de monitoramento e interlocução entre as favelas que tinham Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e as políticas públicas que adentravam nessas comunidades, fui chamado pra assumir a comunicação do Fórum Grita Baixada, que é uma coalizão de instituições na Baixada Fluminense que trabalha com as temáticas de Direitos Humanos, Segurança Pública e Violência de Estado. Como estava há quatro anos longe do jornalismo, eu tive que sofrer um rápido processo de adaptação e reciclagem sobre os meus conhecimentos midiáticos. Passei a ser designer, publicitário, relações públicas, repórter e assessor de comunicação. Apanhei, mas foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.

Gecom: Com a sua visão holística e por estar em constante contato com outras iniciativas sociais, qual avaliação você faz sobre o trabalho da Comunicação dentro delas no período em que a pandemia se alastrou pelas comunidades?

Fábio Leon: Infelizmente, a pandemia, pela gravidade do que significa, deixou todos os meios de comunicação, repito, TODOS, reféns de pautas monotemáticas sobre os desdobramentos desse cenário. Mas eu acho que não poderia ser diferente. Aqui, no Fórum Grita Baixada, tivemos muitos relatos de perda de emprego, falta d´água, mutirões humanitários para a distribuição de produtos de higiene e gêneros alimentícios de primeira necessidade, mas também de operações policiais, especialmente em comunidades de Belford Roxo e Duque de Caxias. Todo mundo em pânico por causa de uma doença completamente desconhecida e ainda convivendo com a violência policial. Centenas de famílias estavam começando a passar fome nas favelas do Rio e outras áreas periféricas da Baixada. Em quase 100% das vezes, todas as notícias que chegavam eram: precisamos de ajuda. Então, deu-se início a um fenômeno interessante: a coletividade deu lugar às notícias meramente institucionais. Multiplicaram-se chamamentos para doações de produtos, doações financeiras, quem poderia emprestar um carro para ajudar na distribuição das cestas básicas ou carregar os galões de água para as famílias. Eu nunca vi tanta prestação de conta de ONGs, projetos, coletivos, entre outros, sendo publicizada. Nem o governo federal consegue ter tanta transparência assim. O próprio FGB, em parceria com a ONG Viva Rio conseguiu mapear cerca de 40 núcleos de apoio à famílias vulneráveis na Baixada por causa da pandemia. A conclusão a que chego é: as iniciativas sociais, que poderiam ser catalogadas como iniciativas individuais, substituíram o poder público. O que se viu foi uma corajosa comunicação de denúncia sobre a omissão do Estado em relação aos efeitos da pandemia nas comunidades pobres do Rio e da Baixada. Os moradores dessas áreas pobres não esperaram a ajuda de governo algum. Foi uma mobilização poderosa, onde salientou-se aquela máxima do “nós por nós”. Só umas duas semanas e meia depois, lá pra final de abril e início de maio do ano passado, é que a grande mídia começou a noticiar essa calamidade.

Arquivo pessoal


Gecom: De que forma a Comunicação será fundamental para essas iniciativas em 2021?

Fábio Leon: Com a chegada das vacinas e, principalmente, com a população sendo imunizada, aos poucos voltaremos ao "velho normal" da sociedade capitalista. O cenário deixará de ser menos catastrófico e novas estratégias deverão ser repensadas ao longo do tempo, apesar de não haver necessariamente uma tendência a ser seguida. Não há, nesse momento, um certo e um errado. Os textos estão se tornando menores e os vídeos nos stories do Instagram capitalizam de forma eficaz essa economia política das mídias comunitárias. Fala-se muito da onda de podcasts que funcionou muito bem quando os públicos-alvos estavam em quarentena ou trabalhando em home-office. Mas esse mesmo público vai ser substancial depois que o “velho normal” retornar? Se bem que eles são cria do rádio que existe no Brasil desde a década de 1920, fora que as transmissões, que nem são mais tão “radiofônicas” assim, vêm sendo realizadas em canais como o Youtube. Mas para que metade do que eu acabei de dizer se concretize, as iniciativas precisam recorrer a recursos. Vários organismos internacionais que fomentavam essas iniciativas as abandonaram, quando esse governo de extrema-direita promoveu uma caça às bruxas por achar que todas elas continham um “viés ideológico” conspiratório em seus expedientes para rivalizar com sua agenda. Talvez quando esse governo for enterrado de vez, em 2022, haja um respiro, e as ONGs voltem a contratar profissionais como antes.

Gecom: Dentro de sua experiência e aprendizado, durante a pandemia, quais recomendações você faz aos comunicadores de iniciativas sociais e instituições não governamentais?

Fábio Leon: Dependendo que iniciativa seja, seria interessante basear uma parte de suas estratégias monitorando o que o poder público tem feito. Mas isso vai depender da especificidade de sua atuação e se ela quer ou pode provocar determinados debates. O online ainda vai ser parte de nosso cotidiano por um bom tempo, então não há muita escapatória. É necessário que os comunicadores tenham plena familiaridade ao usar ferramentas que promovam reuniões relativamente numerosas da maneira virtual para possibilitar a realização de lives, seminários, cursos, etc. E pensar nas estratégias de divulgação desses “aglomerados virtuais” de maneira eficiente.


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