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terça-feira, 30 de março de 2021

O audiovisual nas organizações do Terceiro Setor e nas mídias comunitárias

Arquivo pessoal

Maximizar o potencial das ONGs e de outras iniciativas sociais e contar a história de um destaque da favela, seja no esporte ou nas artes, são os focos principais do jornalista, comunicador comunitário e poeta, Anderson Gonçalves, o Jedai. Morador da Penha, aos 32 anos, ele utiliza o audiovisual para narrar histórias e também para se expressar por meio de suas poesias. Atualmente, ensina jovens da periferia a produzirem vídeos em plataformas digitais, no Curso Transmídia, no Instituto Vida Real, no Complexo da Maré.

Nesta entrevista, o Jedai, por meio de sua experiência, conta pra gente sobre como a produção audiovisual contribui para as ações de Comunicação das ONGs e de outras iniciativas sociais.

Gecom: Conte um pouco sobre a sua trajetória de jornalista e comunicador comunitário.

Jedai: Comecei em 2015, há uns seis anos. Mas antes disso, eu já falava sobre a história da minha favela, da minha área, contando, mostrando a pessoa que se destacou no esporte, na cultura. Eu já fazia esses textos e, através deles, comecei a chamar a atenção de alguns jornais comunitários, como a Voz das Favelas, do Renê Silva e a Agência de Notícias das Favelas, do André Fernandes. Dentro disso, me chamaram para estar colaborando no jornal ou sendo correspondente da Maré. Eu comecei a levar sempre pautas positivas relevantes pra eles e comecei a ganhar destaque dentro desses dois jornais. Contei a história da Favela da Kelson’s, falei sobre a história da Madre Teresa de Calcutá, que pisou na favela. Essas matérias foram de grande repercussão. Comecei a criar pautas positivas. Eu nunca gostei de falar sobre a guerra, tiroteio ou violência, porque isso a grande mídia já fala e algumas pessoas costumam falar em algumas colunas de jornais. Eu não. Eu vou falar sobre a arte, a cultura, o esporte, o entretenimento. Essa é a minha visão. Sobre a pessoa que vem do Nordeste com dificuldades de vencer na vida. Essa é a minha ideia.

Gecom: De que forma a produção audiovisual despertou interesse em você?

Jedai: Comecei na produção audiovisual há uns dois anos. Comecei a fazer algumas filmagens, mostrar algumas paradas maneiras através de uns vídeos. Mostrei um projeto bacana da Kelson’s que teve visibilidade no RJ1. Assim, eu vi que não tinha como fugir da produção audiovisual. Até porque, hoje tudo gira em torno dela. Falei pra mim: “Vou ter que entrar nessa parada para poder mostrar uma outra ótica da favela, daqueles projetos que se destacam”.
Eu sempre gostei da produção audiovisual, porque eu sou poeta. Amo escrever poemas. Então, eu sempre gostei de mostrar às pessoas uma visão que tinha sobre determinada situação. Eu ia lá fazer uma poesia, declamava em vídeo. Isso chama muita atenção. Então, foi aí que eu vi que tava todo mundo ligado no audiovisual. Aí falei: “É nesse meio que eu tenho que estar me potencializando”.

Crédito: Gleice Cardoso



Gecom: Como a produção audiovisual, enquanto um das linguagens da Comunicação, pode contribuir para o trabalho das ONGs e de outras iniciativas sociais?

Jedai: Ela pode contribuir bastante. Ela é essencial para o trabalho das ONGs e de outras iniciativas, porque tem que mostrar o que está sendo feito. Por exemplo, serviços, ações que estão sendo desenvolvidas, a história da ONG através do audiovisual. É superimportante. As captações que ela vem fazendo, doações que ela vem ganhando e distribuindo para a comunidade que sofre algum impacto, como é o caso atual da pandemia. Fazer um vídeo sobre essa situação é superimportante, até para maximizar o potencial da ONG e de outras iniciativas sociais. Porque hoje todo mundo quer ver. Só acreditam vendo. Então, se uma ONG não está posicionada na produção audiovisual, se ela não está ali nesse meio, ela vai estar perdida, vai ficar pra trás. Sempre vai estar atrás de alguém, que está sempre inovando, buscando novas formas de comunicar, fazendo a interlocução com a sociedade. Acredito que é superimportante elas usarem os meios de produção audiovisual através das redes sociais, como o Instagram, Telegram, Facebook, Twitter. Tem que tá ali nessa área, tem que estar produzindo conteúdo audiovisual para mostrar o que está sendo feito durante tal mês, para que as pessoas possam realmente acreditar e validar. Elas vão dizer: “Eu acredito nesse projeto. Vou ajudar também, porque eu vi um vídeo, porque eles mostraram que realmente estão fazendo alguma coisa pela população carente”.

Gecom: Quais desafios e o que você recomendaria aos jornalistas e comunicadores no momento de adotarem a produção de vídeos em suas estratégias de Comunicação?

Jedai: Eu recomendaria que eles usassem ao máximo o conteúdo audiovisual para mostrar o trabalho que tem sido feito. Se quiser fazer um pedido, tem que mostrar através dos stories do Instagram, usem o Whatsapp, façam vídeos curtos com um objetivo bem direto. Uma história com início, meio e fim rapidamente, que mostre os seus trabalhos, o que está sendo feito. Se essa pessoa mora na favela, mostrar como a comunidade está sofrendo durante essa pandemia. Como era a perspectiva antes da pandemia e como tá durante a pandemia. E tem o pós-pandemia. Mostrar o antes, durante e o depois. Qual a visão dela pós-pandemia? Mostrar uma pessoa que está se destacando no esporte. Mostrar não somente ela já falando da sua própria história, mas mostrar onde ela morava, mostrar a dificuldade que ela passou, onde ela jogou bola, quem ajudou. Explorar mais. Eu sinto muita falta.
Infelizmente, muitos jornalistas e comunicadores, que não sabem usar as ferramentas tecnológicas acabam ficando para trás. Hoje, sem a tecnologia, a pessoa se sente na Idade da Pedra. E tudo hoje é aplicativo, ferramenta tecnológica. A gente tem todos os benefícios na palma da mão.
Existem várias ferramentas, como o Inshot, Kinemaster e Snipcity (um editor de fotos). Os dois primeiros para edição de vídeos, serve para colocar uma legenda. Eu vejo vários vídeos de jornalistas que não colocam legenda e acabam não incluindo o público surdo-mudo. Às vezes, tem um surdo que não sabe ler, aí precisa de um intérprete de Libras. É preciso incluí-los e eu não vejo essa preocupação em vários meios de comunicação. É saber usar as ferramentas e os aplicativos que facilitam a produção de vídeos.

Arquivo pessoal




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