Alunos de 12 municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro presentes no primeiro dia de aula do Curso de Políticas Públicas. |
“Acho uma ótima oportunidade de desenvolver não só o meu lado jornalista, mas também o meu lado militante e cidadão, que é discutir as questões de políticas públicas voltada mais para a favela.” Com esta fala, o jornalista do Fala Roça e do Favela em Pauta, Michel da Silva, 26 anos, descreve a importância do Curso de Políticas Públicas, organizado pela associação civil sem fins lucrativos Casa Fluminense, que teve início no dia 4 de março, no Centro do Rio, sede da organização.
O jornalista e morador da favela da Rocinha Michel da Silva espera contribuir para a incidência em políticas públicas em seu território. |
Michel, morador da Rocinha, formado em jornalismo pela PUC-Rio, é um dos 40 alunos representantes dos 12 municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que está na formação, que é realizada em parceria com o Grupo Casa e integra o curso de extensão do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP/UERJ).
O Curso de Políticas Públicas é uma iniciativa que busca fortalecer capacidades de incidência de grupos, movimentos, coletivos e organizações do terceiro setor para a participação aprofundada na formulação, debate e monitoramento de políticas públicas no Rio de Janeiro em um contexto complexo de fragilidade democrática, violência política institucionalizada, perseguição aos ativistas, desinformação e aprofundamento das desigualdades. O curso tem carga horária de 60 horas distribuídas em três ciclos: Rio em formação, democracia e participação social e políticas setoriais. São 16 encontros e mais cinco atividades extras que acontecem semanalmente às quartas-feiras, das 13h às 17h:30. Em um de seus encontros está prevista a formação Comunicação e Mobilização Social, que será realizada pelas mediadoras Dani Orofino e Luna Costa.
Da esquerda para a direita: o coordenador executivo da Casa Fluminense, Henrique Silveira, a assessora de mobilização Yasmin Monteiro e a coordenadora de produção do curso Karen Kristien. |
“É cada dia mais importante que a gente tenha uma cidade pensada a partir da periferia e por atores dos mais diversos, população das periferias, pelos negros, pelas mulheres negras, pela população LGBT. Então, a gente só vai conseguir de fato ter uma construção de uma cidade democrática, a partir do momento que essa cidade for pensada por todo mundo”, explica a assessora de mobilização da Casa Fluminense, Yasmin Monteiro.
“Esperamos encontrar soluções para os desafios que a gente tem. Desafios muito antigos, como saneamento básico, de mobilidade, a partir da participação e da contribuição social. Então, a gente pensa que esse curso é pra isso”, completa.
Yasmin e Karen apresentam os objetivos e a metodologia da quinta edição do curso aos 40 alunos inscritos. |
Muitos que engajam na luta pelas políticas públicas acabam confundindo com políticas partidárias e se perdem no direcionamento de suas ações, apesar de existir uma linha tênue entre as duas.
“Quando a gente pensa política partidária, a gente olha a partir das bandeiras. A gente tem uma característica, também, de política governamental que é o personalismo. Então, muitas das vezes as políticas públicas são marcadas por este personalismo. Mas quando a gente tá tratando de políticas públicas, a gente entende que é um direito do cidadão de ter acesso a direitos. Então, a política pública é pensada para que esses sujeitos tenham acesso a esses direitos. Por exemplo, quando a gente fala de moradia, de saneamento, de cultura, de mobilidade urbana, a gente tá pensando em desenhos de políticas que garantem às pessoas terem acesso de se deslocarem, terem uma moradia digna e respeitosa. Então, a ideia é para que além do partido ou do governador, que está ali instalado naquele momento, pelo período de quatro anos, ou do mandato de um senador, que são oito anos, que a política pública se estenda para além desses períodos e consiga se efetivar em diferentes instâncias, espaços sociais, medidas para garantia de direitos”, esclarece a coordenadora de produção do curso da Casa Fluminense, Karen Kristien.
“A política partidária tem intenções que estão alinhadas com ideologias que talvez não sejam públicas. Elas beneficiam somente um grupo social ou um nicho para ocupar, ou para aquele partido que ele é voltado. E aí, quando a gente fala de política pública pensamos em democratização e acesso coletivo, e não só de um público restrito”, completa Karen.
A Casa Fluminense oferece aos participantes do curso publicações produzidas pela própria organização, como os boletins, almanaque e a Agenda Rio 2030, que é o material de referência. Além disso, cada mediador das disciplinas indica um material de leitura prévia, com uma ementa da aula junto a uma bibliografia.
“Acho que essa formação vai ajudar a gente a pensar políticas públicas para os nossos territórios, que possuem muita deficiência nessa área. Nosso papel, enquanto jornalista, é reportar o espaço dessa região e apontar possíveis soluções. E aí, é onde entra políticas públicas, mostrando como é que a gente pode resolver os problemas e apontando os caminhos através de alguma política pública para essa região”, conta Michel sobre a sua expectativa em relação ao curso.
“A ideia é que os participantes tragam um repertório, tragam um saber, porque a gente também está aprendendo com essas vivências, essas mobilizações, que já são feitas por eles em outros espaços, que não são os espaços da Casa. Então, a ideia de rede e de circulação de saber através dos participantes do curso para a gente é uma realidade”, afirma Karen.
Atualmente o curso entrou em recesso devido ao COVID-19, o novo coronavírus, e está seguindo as recomendações do Estado e da Secretaria Municipal de Saúde em evitar reunião de grupos de pessoas em ambientes fechados ou aglomerações na rua, uma vez que o curso também oferece atividades externas.
Leia aqui o comunicado oficial da Casa Fluminense, publicado dia 16 de março.
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