Crédito: Elisângela Leite |
Estagiar jornalismo dentro de uma ONG e depois ser contratado pela mesma organização é uma oportunidade para poucos. Foi assim com Larissa Amorim, formada em jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e pós-graduada em Comunicação Organizacional Integrada (ESPM), que começou como estagiária da ONG Casa Fluminense e, atualmente, está como coordenadora de Comunicação da instituição.
Larissa Amorim, em entrevista ao Gecom, conta como teve seu talento e competência valorizados e aproveitados pela Casa Fluminense, que atua para a construção de políticas públicas na metrópole do Rio de Janeiro, com foco na redução das desigualdades, no aprofundamento democrático e no desenvolvimento sustentável.
Gecom: Como surgiu o interesse de estudar e trabalhar com Comunicação, em especial no Terceiro Setor?
Larissa Amorim: Eu estudei jornalismo na Faculdade de Comunicação da Uerj. Durante o período de faculdade, eu tive a experiência de estagiar em um programa de educação ambiental da Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Ali foi meu primeiro contato com debate de políticas públicas, sustentabilidade, mobilização e articulação popular no Rio. A partir daquela pouca experiência, eu comecei a localizar que a Comunicação era o que eu queria vivenciar e estar profissionalmente. A construção que eu queria fazer tinha relação com políticas públicas, na verdade a minha entrada no Terceiro Setor tem um pouco a ver com esse entendimento. Ou seja, não tô falando sobre minha reflexão do Terceiro Setor. Tem muito a ver com o perfil específico que atua como a Casa hoje, que atua no debate de políticas públicas sobre redução de desigualdades, um debate sobre ampliação de oportunidades, de garantias de direitos. Então, na sequência a isso, estava procurando uma outra oportunidade de estágio, entendendo que ou eu seguia estagiando, ou procurando oportunidades dentro do poder público, da máquina de estrutura. Tive uma indicação de um superamigo, que me falou sobre o trabalho da Casa, falou como a Casa atuava e aí eu entendi que fazia muito sentido atuar no campo da Comunicação. Construir uma relação com organizações do Terceiro Setor e fazer um debate programático, de agenda de direitos, de participação social, popular, foi assim que surgiu meu interesse em estudar Comunicação no Terceiro Setor. Foi por essa ponte das políticas públicas, um debate sobre redução de desigualdades, um debate próximo das periferias. Foi ao conhecer a atuação da Casa, que foi me conquistando pro Terceiro Setor. A partir da Casa que eu conheço, na verdade, o Terceiro Setor, outras organizações e grupos do Rio. E hoje, tenho mais clareza que tenho como escolha o Terceiro Setor onde quero continuar atuando. Mas é claro, tudo pode mudar.
Gecom: De que forma o estágio contribuiu para o seu desenvolvimento profissional?
Larissa Amorim: O estágio na Casa foi muito importante para o meu desenvolvimento institucional, porque ali foi onde encontrei oportunidades de colocar em prática, me aproximar um pouco mais, das reflexões, das teorias e dos debates que a gente encontra e conhece na Universidade. Eu pude vivenciar isso tudo no estágio da Casa, que inclusive é sempre esse desafio da distância entre os currículos e a vida prática profissional. Então, eu pude encontrar no estágio da Casa aproximação maior com ferramentas, diferentes linhas de atuação com a Comunicação, aproximei um pouco mais pra pensar produção de conteúdo, gestão de redes sociais, experiências com a própria Comunicação Institucional e organizações. Foi muito importante esse estágio para o meu desenvolvimento. Foi ali, também, que comecei a entrar em contato, em termos de conteúdos, materiais para pensar o Rio, uma produção de comunicação ora institucional, ora mais jornalística. Coleta de entrevistas, histórias, narrativas importantes, narrar territórios e pessoas… Foi no estágio da Casa que também aprendi, de uma forma mais próxima, também atrelar a produção de comunicação associada a dados. Foi bem importante pra isso.
A minha efetivação profissionalmente foi um processo de construção interna. A Casa entende a importância de valorizar estrategicamente a Comunicação dentro da estrutura organizacional. Acho que isso segue sendo um desafio pro Terceiro Setor. É muito comum a estrutura de equipe de Comunicação no Terceiro Setor no formato "euquipe". Então, teve um pouco da inclinação da Casa em formar seus quadros, em valorizar a equipe. E aí, do estágio eu me tornei assistente. Depois do primeiro ano de estágio. Foi quando já estava para me formar. Depois, me tornei assessora. Nesse meio tempo, eu tive uma pequena experiência fora da Casa. Ela achou que faria sentido atuar numa campanha política fora da Casa, fora da estrutura da Casa pra eu poder viver essa experiência política (a Casa não tem ligação partidária) e depois voltar. Fiquei pouco tempo como assessora. Aí teve uma mudança na estrutura da coordenação de Comunicação da Casa e depois assumi a coordenação em 2019, que é onde estou até os dias de hoje assumindo esse desafio dentro desta instituição. Não foi o meu primeiro estágio. Tive outras experiências em outros lugares. Mas foi meu primeiro estágio no Terceiro Setor.
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Gecom: Conforme descrito no Plano Estratégico da Casa Fluminense 2021-2024, os objetivos elaborados para este período são: Fortalecer lideranças sociais e organizações populares; monitorar políticas públicas com a rede de parceiros; defender causas prioritárias na metrópole e desenvolver a sustentabilidade política, financeira e institucional. Como a Comunicação colabora com esses objetivos?
Larissa Amorim: De muitas formas. A Comunicação é uma coordenação transversal no plano de atuação da Casa. Ela é muito estratégica. Ela colabora desde a etapa do planejamento destes objetivos, que organizam quais projetos e quais atividades fins a gente vai realizar para tornarmos realidade. A Comunicação participa do debate sobre que resultados a gente vai comunicar depois e vai colocar no mundo pra contar isso que a gente fez. Então, ela participa desde o início desse processo, sobre essa tomada de decisão, sobre quais resultados são mais estratégicos para serem comunicados e sistematizados ao longo. Quais atividades, no plano de trabalho, vão ser realizadas para ajudar a gente efetivar esses objetivos. Pensar a estratégia de execução junto às coordenações de mobilização, de informação, de operações, a coordenação executiva institucional, como a gente coloca esses projetos no mundo.
Gecom: O que você sugere aos estudantes de comunicação que estão procurando um estágio ou estejam estagiando no Terceiro Setor?
Larissa Amorim: A depender do currículo da faculdade, da forma como está organizada, a depender de que área na comunicação se atua (Publicidade, Relações Públicas, Jornalismo, estudos de mídias, uma diversidade de linhas de atuação), a depender da escala territorial, do escopo territorial do Terceiro Setor, acho que se aproximar do debate que tá acontecendo, é fundamental. O Terceiro Setor, em geral, está dialogando com os desafios estruturais que a gente está vivendo no Rio, no Brasil, no Sudeste. Vai depender da região onde o estudante vai estar procurando estágio, vai estar atuando. Estar atento aos debates políticos, desafios socioeconômicos, a um debate sobre as estruturas das desigualdades do Rio de Janeiro, no Brasil e em outras partes, mas entendendo as especificidades de cada território, de cada região, de cada lugar. Também entender como o racismo, o machismo, a homofobia, a misoginia, como ela opera também sobre esse debate no Terceiro Setor. A Comunicação no Terceiro Setor é uma comunicação de causas que está atrelada ao impacto social que a gente quer produzir. Eu diria que hoje tem uma tendência forte de Comunicação no Terceiro Setor voltada para o debate sobre comunicação atrelada a mobilização. Estratégias de WhatsApp, pensar réguas de engajamento, como que a gente articula pessoas que estão ativamente relacionadas, que vão estar sendo multiplicadoras estrategicamente dos conteúdos de comunicação nessa organização que vai estar atuando. Acho bem estratégico para esses estudantes que queiram pleitear atuação no Terceiro Setor. Eu diria que no campo da incidência política, também. Começar se aproximar um pouco mais desse debate, entendo que aí tem um campo grande de atuação no Terceiro Setor, que tem a ver com a assessoria de imprensa que a gente vê muita na nossa formação de Comunicação. Mas às vezes também tem a ver com outras tecnologias, tem a ver com entender a estrutura do Estado, para entender quem são os tomadores de decisão, que precisam ser pressionados ou mobilizados para que aquele direito, para que aquela luta naquela comunidade avance.
Larissa Amorim e a equipe da Casa Fluminense recebem a medalha Tiradentes na Alerj. Crédito: Elisângela Leite |
Sobre a Casa Fluminense
A Casa Fluminense é uma associação civil sem fins lucrativos, autônoma e apartidária, que atua para a construção de políticas públicas na metrópole do Rio de Janeiro, com foco na redução das desigualdades, no aprofundamento democrático e no desenvolvimento sustentável.
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