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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

A formação em Jornalismo como ferramenta estratégica de Comunicação para o Terceiro Setor

 

Karen Melo, jornalista e pesquisadora em Mídias Digitais. 

Jornalista, social media, comunicadora social, produtora, redatora, editora e diretora de audiovisual, com experiência em instituições do Terceiro Setor, são algumas das possibilidades que a formação em Jornalismo oferece e são, também, as experiências da jornalista e pesquisadora em mídias digitais, Karen Melo. 

Com passagens pelo Voz das comunidades; editora na Agência Lupa, Agência de Notícias das Favelas (ANF) e na Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase); assistente de Comunicação no Instituto Raízes em Movimento; social media no Zacimbagaba; assistente de Diversidade Cultural na Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio; e coordenadora do Centro de Referência de Juventude do Alemão (CRJ), atualmente é assistente de Comunicação no Coletivo Papo Reto.

Alinhando conhecimento prático e teórico, juntamente com as experiências vivenciadas no Terceiro Setor, Karen também destaca a importância da formação acadêmica em Jornalismo e o papel estratégico da Comunicação para as ONGs.


Gecom: Por que é importante estudar jornalismo nas faculdades?

Karen Melo: No meu caso, tem toda uma construção em cima de um projeto, de um sonho. Eu sou a primeira geração da minha família a fazer graduação e pós. Nascida e criada no Alemão, eu sempre fui apaixonada por imagens, textos, e na favela você já nasce comunicativo para a sobrevivência. Meus pais não tinham condições de bancar uma faculdade pra mim, foi quando houve um projeto de governo federal, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que tirou algumas casas no território em que eu morava (inclusive a minha) e nesse local, na Praça do Conhecimento, criaram a Nave do Conhecimento, onde ofereciam cursos gratuitos. Fui me aventurar no universo da comunicação, e ali viram em mim um potencial. Fiz fotografia, webdesigner e audiovisual. No final de cada curso, deveríamos entregar um projeto. Meu primeiro projeto de fotografia falava da moda na favela, no qual fui premiada e ganhei uma viagem para Curitiba, para expor na semana de fotografia da cidade.  Meu segundo projeto,  de audiovisual, foi criado por mim e um grupo de amigos que se chamava Gonzagueando, que era a história de migrantes nordestinos para dentro do Complexo do Alemão. Nesse momento, já estava convicta do que eu ia fazer, participando de editais, comprando equipamentos, pegando emprestado, o projeto se tornou Alemão em cena. Foi tão bem estruturado, que a partir desse seguimos em outras favelas. Até que apresentei à Facha meu projeto, eles acolheram e  deram a bolsa de estudos para o grupo.

Eu queria mostrar o olhar das pessoas que moravam ali, o que elas sentiam, o que elas tinham para falar e por diversas situações eram silenciadas. A  comunicação que já existia em mim, aliada do jornalismo que me escolheu, eu consegui de alguma forma fazer a devolutiva, mostrando a realidade das pessoas a partir da narrativa de quem também  já viveu nesses locais.

A faculdade não foi só eu, foram diversas pessoas que me impulsionaram todos os dias para não desistir. Foi uma vontade de ocupar espaços que meus pais não conseguiram, que para muitos foi negado. Uma menina negra, preta e de favela conseguiu. 

O jornalismo abriu diversas possibilidades de trabalhar em Comunicação no Terceiro Setor para Karen Melo. 


Gecom: Como a formação acadêmica na área de jornalismo colabora para o profissionalismo da Comunicação no Terceiro Setor?

Karen Melo: O jornalismo é um leque de possibilidades, você não precisa estar em um balcão em rede nacional na TV pra ser jornalista. Na maioria das vezes, eu atuei no Terceiro Setor, e nele eu sou jornalista, e consigo passar o que eu aprendi, trocar, dialogar. Eu trabalhei por um bom tempo com editais e me lembro que nessa época, tinha um edital chamado Favela Criativa. Meu papel era ler todas as documentações e o storytelling que cada proponente enviava. Em cada projeto reprovado era nítida a falta de alguém de Comunicação para auxiliar essas pessoas a entenderem como seus projetos poderiam ser bem estruturados se tivessem uma comunicação estratégica, não só para editais, mas para ter um portfólio atrativo para captação de recursos diversos, uma rede atraente e harmônica. Tudo isso precisa ser pensado e tudo isso é pesado quando algum projeto do Terceiro Setor precisa ser visto. No projeto Zacimbagaba, eu trago dentro da oficina de Comunicação Estratégica para o Terceiro Setor a reflexão do que as mulheres querem e precisam para seus projetos, pensar desde o público alvo até às cores que serão usadas e que tipo de informação elas vão passar, como vão construir a imagem desse projeto. É muito bacana porque quando estamos juntas as ideias fluem, as perspectivas mudam.


Gecom: Quais são as descobertas que você gostaria de compartilhar em suas pesquisas dentro da Comunicação no Terceiro Setor?

Karen Melo: Posso dizer que dentro do campo onde eu atuo, o Terceiro Setor está se consolidando na entrega de uma boa Comunicação Estratégica. Temos um longo caminho, mas tenho visto investimentos em sites e mídias em geral para a manutenção e resistência desses espaços. As ONGs têm buscado trazer seus mantenedores ou investidores mais próximos. Não é somente doar, é trazer para perto, é fazer a prestação de contas, dizendo : “Teu recurso está sendo para investir nisso”. Usando cada vez mais vídeos, fotos, textos de qualidade. 

Nascida e criada no Alemão, atualmente é assistente de Comunicação do Coletivo Papo Reto. 


Gecom: Conte como é o trabalho na instituição que você está atualmente.

Karen Melo: Eu trabalho no Coletivo Papo Reto que pauta direitos humanos em diferentes frentes de atuação. Fazemos isso pensando a educação, a comunicação, a arte e a cultura como ferramentas que possam garantir que todas as pessoas moradoras de favelas e periferias tenham conhecimentos diversificados sobre garantia plena de direitos em toda sociedade. Hoje contamos com uma estrutura que permite ampliar o campo de ação, com espaço de aulas, reuniões e administrativo que fortalece nossas ações no campo dos direitos humanos, educação e cidadania favelada. 


Instagram: @karencmelo

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