terça-feira, 29 de junho de 2021

Comunicadores em busca do conhecimento

 


O conhecimento é algo que podemos adquirir em uma sala de aula, na rua, no trabalho, em livros, na internet, sozinho ou em grupo. Ao colocar em prática o conhecimento adquirido, estamos exercitando nossas habilidades, ou seja, o saber fazer.

A busca pelo conhecimento possibilita a estudantes, pesquisadores e profissionais de Comunicação a ampliação de visão de mundo, do entendimento do papel estratégico do comunicador e de sua participação cidadã.

Luiza Claro, 20 anos, Bruno Odacham, 25, e Heitor Felix, 18, são exemplos de comunicadores atuantes no Terceiro Setor, que por meio da aprendizagem vivencial e estudos ampliam seus conhecimentos para conduzirem seus trabalhos de comunicação onde atuam.

Luiza Claro está no quinto período do curso de Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas, pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha). Há pouco mais de dois meses, foi contratada pela ONG Atados como estagiária da equipe de Redes do Rio, que é responsável pelo relacionamento com ONGs e voluntários. Atua, também, como voluntária no Instituto Casa Viva, ONG que desenvolve projetos desde a primeira infância até a terceira idade. Bruno Odacham também estuda Comunicação Social na Facha, com habilitação em Jornalismo, está no sexto período, e é estagiário de editor de vídeos do jornal The Intercept Brasil. Esteve nos jornais comunitários A Voz da Favela e Voz das Comunidades, atuando como comunicador comunitário, desenvolve projetos de comunicação independente e é influenciador digital. Heitor Felix se dedica aos estudos do pré-vestibular +Nós, em Duque de Caixas, e pretende cursar jornalismo. Há quatro anos, está na ONG Movimento Alternativo Libertário e Organizado em prol da Cidadania e Apoio Social (Maloca). Há seis meses, é voluntário do Movimenta Caxias, aprendendo e desenvolvendo suas habilidades em comunicação ao lado de outros profissionais.

Acompanhe, na entrevista a seguir, as experiências de cada um.

Gecom: Como ou o que fez despertar o seu interesse pela comunicação?

Luiza Claro: Quando eu estava no último ano do ensino técnico em Publicidade, percebi que não gostaria de cursar Publicidade e Propaganda na faculdade. Então, pesquisando, encontrei Relações Públicas e, logo em seguida, a atuação no terceiro setor. Eu entendi a importância e a necessidade da comunicação nesse setor, e naquele momento tive a certeza que desejava ser uma Relações Públicas. Aprender sobre esse universo tão plural e essencial. 

Bruno Odacham: Eu sou morador da comunidade de Manguinhos e sempre me senti incomodado com os estigmas que aqui carregava de um lugar violento, um lugar de drogas, etc. Eu sempre via isso na televisão. Eu percebi que as pessoas tinham muita aversão a querer a conhecer, a entender. Apesar de ter algumas coisas negativas ali dentro, tem diversas coisas que são muito legais (e eu falo de projetos sociais, grupo de pessoas com interesse em comum). E aí, por conta das coisas que a gente via na televisão, minha mãe acabava me repreendendo pra não estar nesses espaços, principalmente pela violência e por achar que ali dentro só tinha "coisas erradas". Com o tempo, fui acompanhando melhor o que acontecia lá. Vendo que não era só isso, e que tinha coisas boas, aquilo me fez querer mostrar também para as outras pessoas. Isso acabou me potencializando, me inspirando. Foi aí que eu acabei conhecendo um pouco mais sobre comunicação comunitária, que é onde eu aprendi algumas coisas básicas do jornalismo, que é escrever, fotografar, fazer vídeo. Fiquei nesse meio comunitário uns três ou quatro anos, fazendo vários trabalhos, como dar voz para as pessoas, conhecer lugares dentro da comunidade, mostrar para as pessoas esses lugares. Foi aí que eu acabei entendendo e aprendendo o valor da comunicação. Entendi que a Comunicação consegue transformar a vida das pessoas. Através desses trabalhos, eu acabei ganhando uma bolsa de estudo da faculdade para cursar Jornalismo. Assim, a Comunicação muda a visão das pessoas, desconstrói alguns estigmas que elas têm, não só nas comunidades, mas também de outros lugares, outros assuntos, tabus. Então, ela me atraiu por conta disso, desse poder de transformação, de levar conhecimento ao outro.

Heitor Felix: Sempre fui muito fã de assistir esportes, viver e respirar sobre tudo que o envolvia.  E a vivência com isso me fez olhar com outros olhos de como a Comunicação chegou até a mim. Foi aos 14 anos que decidi o que queria fazer quando fosse pra faculdade, Jornalismo. Até aquela idade, eu tinha muitas opções e feito muitas escolhas, mas nenhuma que me deixasse feliz ou à vontade. Tenho a certeza que escolher a comunicação como meu objetivo é o que me deixa mais feliz ainda. Agora, é estudar pra chegar até lá.



Luiza Claro, estudante de Relações Públicas.


Gecom: Qual é o trabalho da ONG em que você atua e de que forma a comunicação tem contribuído para alcançar os resultados da sua organização?

Luiza Claro: A ONG Atados é uma plataforma gratuita que conecta ONGs com pessoas que desejam fazer trabalho voluntário. Além disso, desenvolve atividades e encontros para capacitar as organizações da Rede. Hoje, tem mais de 3.000 ONGs e mais de 180 mil usuários cadastrados. A comunicação, de forma estratégica, apoia a ampliação do Atados, influencia o engajamento, possibilita a criação de campanhas como do Meio Ambiente e o Dia do Voluntariado, o evento mundial conhecido como Dia das Boas Ações. Além de ser fundamental para atingir os objetivos da ONG.

Bruno Odacham: Já faz alguns anos que eu não participo da comunicação comunitária, mas dentro da minha experiência de quatro anos, eu percebi que uma das formas que a Comunicação consegue auxiliar é nos resultados das ONGs. Primeiramente, a gente vai ajustando a nossa linguagem. Saber ajustar a linguagem pra você falar com as pessoas, com as pessoas-alvo. Principalmente com as pessoas da comunidade, que geralmente têm seu dialeto próprio, têm formas específicas de falar, formas que são ali da própria comunidade. Então, um dos primeiros passos é saber se adequar a esse tipo de comunicação. Obviamente, que numa ONG que é voltada pra Comunicação, feita por pessoas de comunicação, fica muito mais fácil de isso acontecer. Fica mais confiável. As pessoas confiam mais em você. Outra coisa é se comunicar na internet. Ela auxilia bastante. Porque essas pessoas estão, também, na internet. Hoje todo mundo se encontra lá. Então, é como você saber em como usar essa Comunicação, além de acertar a linguagem para se comunicar com essas pessoas.

Heitor Felix: A minha mãe, Ana Felix, é fundadora da Maloca, que atua no Morro do Sossego no bairro do Pantanal desde 2018. É um projeto voltado para as mulheres onde estimula o acolhimento emocional delas e a geração de renda através de oficina de artesanato. A comunicação na Maloca tem como impacto a divulgação das ações que ocorrem, como aulas e recebimento de doações nesta época de pandemia. A Maloca foi o meu primeiro contato com trabalho voluntário até chegar onde estou agora, no Movimenta Caxias. O Movimenta tem como luta a reivindicação de direitos de todos os que enfrentam desigualdades na cidade, fazendo com que todos entendam que somente em coletividade conseguiremos alcançar nossos objetivos e uma sociedade mais justa. Neste início do ano, eu entrei para o Movimenta Caxias e por meio da Juliana, que é a coordenadora de comunicação, entrei para parte dos voluntários de mídia. Ali, fizemos diversas coisas através da comunicação. Pelo Instagram, que é onde o Movimenta tem um alcance maior, publicamos coberturas de atos, de entregas da campanha Tem Gente com Fome e de manifestações. A comunicação tem sido muito importante nesses últimos meses.

Bruno Odacham, estudante de Jornalismo.


Gecom: O que você tem feito para se capacitar em comunicação?

Luiza Claro: Eu tenho feito cursos, como os da Escola Aberta do Terceiro Setor, Rock Content e Google Academy. Assisto lives e vídeos no YouTube, escuto podcast de pessoas que são referências em Relações Públicas e comunicação. Leio artigos, textos e trabalhos de conclusão de cursos em pesquisas na internet. Antes da pandemia, também costumava ir em palestras. Essas são as formas que encontrei para complementar minha formação e estar sempre atualizada. Através do meu projeto pessoal pela rede social @com.unica3 conheço e me conecto com pessoas. A partir disso, peço dicas e converso para aprimorar as ideias que tenho; é o famoso networking. Quando eu entendi que a maior parte das pessoas não se sente incomodada com mensagens, tudo mudou para mim.

Bruno Odacham: Estar nos espaços online, nas discussões que acontecem nos debates públicos. Principalmente no Twitter, porque lá é onde os assuntos acontecem com mais rapidez, com um fluxo muito mais rápido. Depois de eu ter começado a fazer faculdade, fui entendendo como é importante a gente ficar antenado com as coisas que acontece, porque isso tá sempre influenciando a gente de alguma forma, seja direta ou indiretamente. Saber seguir o fluxo, tá sempre atualizado nesse sentido, na forma de se comunicar com o outro. Uma outra maneira que encontro de me especializar é criando projetos, colocando a mão na massa. Nas coisas que eu vou aprendendo, tento colocar em algum lugar. Já trabalhei, por exemplo, com um canal no YouTube com várias dicas sobre brechós no Rio de Janeiro, o “Canal Bruno Odacham”. Atualmente, estou com um projeto de podcast, chamado “Qual é o hit?”, voltado para o mundo musical, onde eu e meu parceiro conversamos sobre alguns temas que rodeiam o mundo musical e, às vezes, o mundo pop. Colocar a mão na massa ajuda a gente se especializar. Porque quando a gente vai colocar em prática, sempre tem alguma coisa que a gente não sabe. O YouTube é um lugar que eu sempre vou pesquisar coisas que eu não sei, como tutoriais, além de debates e conversas que vão sempre somar no que estudo.

Heitor Felix: Neste ano, participei de um laboratório do Voz da Baixada que falou sobre design, fotografia, texto e criação de conteúdo. Foi um grande aprendizado estar no meio de jornalistas, pessoas que tocam comunicação comunitária, como Renê Silva, do Voz das Comunidades, te dando palestra. Você se sente bem e sentindo que é possível sim entrar na faculdade e com os estudos vai longe. Também escrevi duas matérias pelo PerifaConnection para o jornal Meia Hora. Foi muito gratificante ler meu nome em um jornal de grande circulação. Tive ajuda do Marcos Furtado, jornalista que veio de Belford Roxo, para a entrevista e o texto. Acredito que a Baixada tem muita potência, só faltam oportunidades de capacitação com quem já é do ramo. Essa troca de experiência ajuda muito no conhecimento.

Heitor Felix, estudante de pré-vestibular para Comunicação.



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