terça-feira, 18 de abril de 2023

Jornalismo e Educação: uma oportunidade de aprendizagem

Tays Paulino acredita que uma comunicação feita de forma errada pode gerar muitos problemas. / Divulgação.


No dia 28 de abril comemora-se o Dia Mundial da Educação. Apesar da ONU considerar a data 24 de janeiro, como o Dia Internacional da Educação, há 23 anos, líderes de 164 países, incluindo o Brasil, se reuniram no Fórum Mundial da Educação, na cidade de Dakar, no Senegal, firmando compromissos, por meio da "Declaração de Dakar - Educação para Todos - 2000"  para garantir melhorias na educação que satisfaça suas necessidades básicas de aprendizagem, no melhor e mais pleno sentido do termo, e que inclua aprender a aprender, a fazer, a conviver e a ser. Ainda de acordo com o documento, uma educação que se destina a captar os talentos e potencial de cada pessoa e desenvolver a personalidade dos educandos para que possam melhorar suas vidas e transformar suas sociedades.

Nesta entrevista, convidamos a estudante de Jornalismo e assistente de secretaria no Pré-Vestibular Popular Construção, em Manguinhos, Tays Paulino, para nos contar sobre a importância, os desafios e as oportunidades dos estudos acadêmicos para uma profissionalização da Comunicação no Terceiro Setor.

Tays possui Licenciatura em Letras: Português e Árabe e é graduanda em Jornalismo, ambos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela é, também, estagiária do setor de marketing e comunicação na Prumo Logística.

Confira a entrevista, a seguir.

Gecom: O que a incentivou a estudar Jornalismo?

Tays Paulino: Sempre quis fazer jornalismo e nunca percebi claramente. Na verdade, demorei muito tempo para saber. Lembro que, quando era criança, adorava brincar que estava apresentando um programa de TV e que sempre gostei muito de escrever também, de lidar com as palavras. Inclusive, com 10 anos participei de um concurso de leitura na escola e ganhei a medalha de primeiro lugar. Outra coisa que gostava muito era de criar várias histórias na minha cabeça e, com certeza, isso já era um sinal de proximidade com a área da comunicação. 

Depois, comecei a gostar do universo do audiovisual. Passei a "cobrir eventos", como aniversários, casamentos e assim fui me tornando a pessoa responsável por isso nas festas de amigos mais próximos em que estava presente  (tirava fotos, fazia aqueles vídeos de homenagem, etc). Esses foram os sinais que se apresentaram e eu ainda não tinha percebido. Quando entrei no Ensino Médio, fui fazer Técnico em Administração. No começo fiquei muito atraída por esse campo da Administração, mas depois comecei a pensar em cursar História, Direito e então cheguei no Jornalismo. Fiquei numa dúvida cruel entre os cursos na época do vestibular, mas acabou que não consegui nota para ingressar em uma universidade pública, que era o meu objetivo. Então, resolvi estudar algo que fosse o mais parecido possível e, para mim, esse curso era o de Letras. Fiz pensando no Jornalismo e com todas as pesquisas acadêmicas voltadas para ele. Depois que terminei (após a Licenciatura em Letras), fiz o vestibular novamente para Jornalismo e "cá estou".


Gecom: Em sua opinião, como a formação acadêmica na área de Jornalismo pode colaborar para o profissionalismo da Comunicação no Terceiro Setor?

Tays Paulino: Acredito que a formação seja essencial para qualquer área em que você vá trabalhar com comunicação e com pessoas - uma formação voltada para a Comunicação em si ou de Jornalismo mesmo, falando especificamente da área. E o Terceiro Setor, assim como os outros, é muito importante e precisa ter a mesma relevância que os outros setores têm. Então,  creio que pensar numa profissionalização dessa área seja algo muito válido; ter um olhar diferenciado sobre as pessoas que trabalham com o voluntariado, com o social, e entender que uma formação, em qualquer meio, precisa ser valorizada. Principalmente na área de Comunicação, porque, se ela for feita de uma forma errada, pode gerar muitos problemas. Por isso, é preciso pensar nisso com muita responsabilidade. Inclusive, hoje a gente vive a não exigência do diploma e isso precariza muito a área. Quando a gente fala do Terceiro Setor, talvez precarize mais ainda, mas acredito que os gestores das áreas sociais devem valorizar e olhar para isso não com uma ideia de exclusão, mas com a proposta de ter uma pessoa capacitada e preparada para exercer aquela função.

Tays Paulino acredita que uma comunicação feita de forma errada pode gerar muitos problemas. / Divulgação.

Gecom: Quais os desafios acadêmicos você encontra no Jornalismo quando se fala no Terceiro Setor e o quê sugere para resolver essas questões?

Tays Paulino: Acredito que o maior desafio seja ter mais pessoas dispostas a fazer trabalhos no Terceiro Setor. E como a Comunicação, o Jornalismo em si, está vivendo esse período de grande desvalorização, com salários muito baixos, creio que outros setores acabem absorvendo mais os profissionais. Hoje temos mil exigências sobre você ter que ter habilidades de outras áreas, muitas vezes de um designer, de um publicitário, para exercer um único cargo, e isso acaba refletindo no Terceiro Setor em termos de remuneração. Em relação à graduação propriamente dita, penso que falta um olhar maior para a questão social. Você não encontra, por exemplo, disciplinas que falem de Comunicação no Terceiro Setor, sobre jornalismo independente, jornalismo voltado para as áreas sociais. Você tem aquelas grades mais comuns, mas você não encontra disciplinas um pouco mais específicas. São temas que têm dificuldade para chegar na Academia. E, para mudar, é preciso levar esses temas para lá. Colocar, por exemplo, matérias sobre jornalismo comunitário. Não estou dizendo que as faculdades não oferecem, não posso falar por todas, mas, de maneira geral, acredito que não sejam temas tão comuns.

Na UFRJ, neste semestre, abriu uma disciplina muito interessante sobre jornalismo de acessibilidade. Não consegui horário pra fazer, mas achei muito interessante a universidade trabalhar esse conceito de "jornalismo para todos". Para mim, é esse o caminho. É preciso oferecer formação. Além de, claro, o próprio profissional buscar essas especializações alternativas.

Gecom: Conte sobre seu trabalho no Pré-Vestibular Popular Construção, em Manguinhos.

Tays Paulino: Eu trabalho no Pré-Vestibular Popular Construção. Estou desde maio do ano passado. Mês que vem faz um ano e tem sido muito recompensador. Sou ex-aluna do Pré. Em 2013, entrei no segundo semestre e fiquei só de agosto a dezembro. Foi uma experiência tão legal, tão enriquecedora. Eu senti que, apesar do pouco tempo que fiquei, consegui aprender muito. Os professores são muito engajados. Um ambiente legal, mesmo.  Nunca esqueci disso. Acabei entrando no Pré, assumindo uma vaga na secretaria para trabalhar com as questões mais burocráticas e dando um apoio aos alunos, quase dez anos depois de ter passado pelo Pré. Hoje, eu faço esse apoio aos alunos. Por exemplo, vai ter uma prova da Uerj, vai ter inscrição, mobilizamos os alunos, olhando documentação, explicando para eles o que tem que fazer, quais documentos, olhando questões de presença, se eles estão lá ou não estão.


Tays durante uma visita de campo com a turma do Pré-Vestibular Construção - 2022. / Divulgação.

Já em relação a Comunicação em si, acabei assumindo as redes sociais em maio do ano passado. Quando eu entrei, o Instagram tinha mais ou menos 750 seguidores. Achei uma rede muito potente, que não podia ficar parada, e aí surgiram ideias de como trabalhar e o que trabalhar em um um Pré-vestibular Social. Inclusive a minha formação em Letras me ajudou muito e minha nova formação (em Jornalismo) também - na parte de pensar o que comunicar, como comunicar e qual a melhor forma de engajar os alunos. Comecei a planejar temas que fossem da realidade deles. Isso ia desde assuntos que estavam rolando nas aulas, dicas de temas de temas que eles viram nas disciplinas, de filmes que poderiam ajudar, e temas relacionados ao vestibular até passeios gratuitos, acesso a museus, coisas que poderiam trazer enriquecimento cultural, porque a sala de aula está em todos os lugares e você precisa ter uma formação sociocultural. Inclusive, o Enem pede muito isso, uma formação sociocultural. E como você vai ter essa formação? Acessando lugares, conhecendo e tendo uma formação além da relação professor x sala de aula x caderno x internet.. Expandindo. Então  trouxe esses temas numa linguagem que eles conseguissem se identificar, se engajar e que conecta-se com eles.

Com minha formação em Letras, consegui formular como que iria trazer um texto legal, forte e correto, além de conseguir pensar em como entraria nesse universo da Educação. Já com o Jornalismo, entendi as estratégias de como alcançar esse público, trazer uma notícia consistente.

Hoje, a nossa rede social cresceu muito. Ela tem 1.060 seguidores, só no Instagram. Eu considero um grande número, comparando com um ano atrás. Um grande avanço. E fico muito feliz por ter conseguido isso. Claro, contando com o apoio de toda equipe; da minha colega que divide a secretaria comigo. Todo mundo ajuda. Outra coisa que é bacana também é a a liberdade que consegui de movimentar, e criar uma identidade, fazer uma coisa de um jeito que eu achava que funcionaria - e todo mundo comprou a ideia. O que mais gosto nisso tudo é de trazer essa sensação de pertencimento e de engajamento do Pré. A gente está fazendo um trabalho com educação forte, potente. O Pré tem 21 anos. É muita história. Estamos no Instagram, no Facebook e vamos cada vez mais longe porque a educação tem que chegar em todos os lugares possíveis, de todas as formas. E se a rede social é uma ferramenta para isso, por que não utilizá-la?

Facebook: Tays Paulino

Instagram: @tays_ps

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