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| Juliana Marques, coordenadora de Educação do Gecom, pedagoga e professora. / Divulgação |
A exaustão do educador inclusivo: driblando dificuldades sem treinador e sem torcida
É inegável que a inclusão escolar representa um avanço social significativo. No entanto, quando essa inclusão acontece de forma desorganizada, sem leis claras, sem apoio técnico e sem infraestrutura adequada, ela deixa de ser um direito assegurado para se tornar um campo de tensões, onde quem mais sofre é quem está na linha de frente: os profissionais da educação.
Imagine um jogo de futebol onde os jogadores entram em campo sem saber quais são as regras, sem ter um técnico orientando, sem juiz para mediar e com bolas de tamanhos diferentes rolando ao mesmo tempo. Cada jogador tenta fazer o melhor possível, mas ninguém sabe exatamente qual é sua posição, o que deve fazer ou a quem recorrer. O resultado? Confusão, sobrecarga e, inevitavelmente, exaustão. É exatamente assim que muitos educadores se sentem diante de uma inclusão que, embora necessária, não é devidamente regulamentada nem acompanhada de políticas públicas consistentes.
Professores se deparam com realidades complexas: estudantes com múltiplas deficiências, transtornos do neurodesenvolvimento e dificuldades severas de aprendizagem. E tudo isso sem um “esquema tático”, sem regras claras que definam o papel de cada profissional envolvido. A responsabilidade pela inclusão é de todos, mas ninguém sabe ao certo o que cada um deve fazer. Falta o técnico, falta o planejamento, falta o apoio do “banco de reservas”.
Além disso, o campo de jogo é desigual. Faltam investimentos em formação continuada, recursos didáticos acessíveis e profissionais de apoio – como cuidadores, intérpretes, professores de apoio e psicopedagogos. Na prática, o professor entra em campo sem chuteiras, sem colete, sem preparação – e ainda esperam que ele marque o gol da inclusão com excelência.
Essa falta de estrutura transforma a escola num espaço de improviso, e o professor num jogador solitário, tentando driblar obstáculos com as ferramentas erradas. A exaustão, portanto, não vem da recusa à inclusão, mas da forma como ela é imposta: sem escuta, sem diálogo, sem condições mínimas de trabalho e sem garantir o que é mais importante – o direito a uma educação de qualidade para todos.
Incluir não é apenas colocar o aluno em campo, é garantir que ele tenha condições reais de jogar. E, para isso, é preciso muito mais do que boa vontade dos professores – é preciso regras claras, apoio contínuo e um time inteiro jogando junto.
Juliana Marques é coordenadora de Educação do Grupo de Comunicação para o Terceiro Setor (Gecom), pedagoga e professora mediadora no Colégio Força Máxima, em São João de Meriti. Atuou na função de professora de alunos com múltiplas deficiências em escolas públicas de Duque de Caxias e investiu na formação continuada que a qualifica para atuar com estudantes com deficiência visual. Entre os cursos realizados estão: Técnicas de Leitura e Escrita Braille, pelo Instituto Benjamin Constant; Educação Inclusiva na Perspectiva do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) e Tecnologia Assistiva para Pessoas com Deficiência Visual, ambos pelo CECIERJ; além do curso Tecnologia Assistiva para Deficientes Visuais, promovido pelo Instituto ABBA.
O Grupo de Comunicação para o Terceiro Setor (Gecom) realizou, no dia 29 de junho, a live “Precisamos falar sobre educação” como uma atividade da Semana de Ação Mundial (SAM) 2025: "PNE na boca do povo: queremos nos ver no Plano Nacional de Educação”.
Neste ano, a SAM foi no período em que as escolas estiveram envolvidas na Bienal do Livro, portanto, mudamos totalmente o que tínhamos programado.
Escolhemos falar sobre à acessibilidade educacional para estudantes com deficiência visual tendo em vista a prontidão e a habilidade que a coordenadora de Educação do Gecom e pedagoga, Juliana Marques, tem com esses alunos especificamente.
Juliana atua como professora mediadora no Colégio Força Máxima e já desempenhou a função de professora de alunos com múltiplas deficiências, em escolas públicas, de Duque de Caxias. Além da prática em sala, a profissional investiu em formação continuada que a qualifica ainda mais para atuar com estudantes com deficiência visual. Entre os cursos realizados estão: Técnicas de Leitura e Escrita Braille, pelo Instituto Benjamin Constant; Educação Inclusiva na Perspectiva do Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) e Tecnologia Assistiva para Pessoas com Deficiência Visual, ambos pelo CECIERJ; além do curso Tecnologia Assistiva para Deficientes Visuais, promovido pelo Instituto ABBA. Esses conhecimentos vêm sendo aplicados em sua prática cotidiana, com destaque para o uso da tecnologia assistiva aliada a recursos educacionais acessíveis, contribuindo para garantir o direito à aprendizagem com qualidade e equidade.
As estudantes Gabriela Vitória Santos da Silva, 18 anos, e Ana Vitória Lima Duarte de Oliveira, 20, são deficientes visuais desde recém-nascidas, alunas de escola pública de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, e foram convidadas a contarem sobre suas vivências escolares, explicando de maneira descontraída as dificuldades encontradas nas escolas, como o bullying, o capacitismo e falta de um profissional qualificado para acompanhar o desenvolvimento pedagógico.
Durante a live, foi possível observar nas falas das participantes que alunos com deficiência visual, desejam ser tratados com igualdade em relação ao demais colegas. Porém, isso não significa que as escolas e as pessoas devam negar recursos que eles precisam. É necessário investimentos na infraestrutura adequada, na formação continuada de professores, e garantir a disponibilização de materiais didáticos e tecnologias que atendam às necessidades específicas e que promovam a equidade no processo educacional.
Além disso, é importante assegurar apoios específicos durante avaliações, como a presença de um ledor e escriba nas provas discursivas, garantindo que os alunos com deficiência visual possam demonstrar seus conhecimentos de forma justa, em condições que respeitem suas necessidades. Outro exemplo é o envio de atividades e trabalhos em PDF, pelo whatsapp, pois a tecnologia disponibilizada pelo celular permite a descrição auditiva para pessoas com deficiência visual (o que é mais eficiente do que encaminhar por e-mail). Essas medidas são essenciais para promover a equidade e a inclusão no ambiente escolar.
A Meta 4 do Plano Nacional de Educação (PNE) propõe universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, é um conjunto de dispositivos destinados a assegurar e a promover, em igualdade de condições com as demais pessoas, o exercício dos direitos e liberdades fundamentais por pessoas com deficiência, visando a sua inclusão social e cidadania.
CAPÍTULO IV
DO DIREITO À EDUCAÇÃO
Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem.
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm
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O Grupo de Comunicação para o Terceiro Setor realizou a atividade na Semana de Ação Mundial (SAM) 2024: "PNE na boca do povo: o que o Plano Nacional de Educação tem a ver com você?”, no dia 23 de setembro, com jovens estudantes de escola pública de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Durante o bate-papo, a coordenadora de educação do Gecom, Juliana Marques, conversou com os jovens estudantes sobre o Grêmio Estudantil, sua importância dentro e fora da escola, suas atribuições e como ele é composto.
“Foi um bate-papo descontraído e esclarecedor, onde podemos observar como o grêmio seria de grande importância para os estudantes”, avaliou Juliana.
Foram discutidas as habilidades importantes que os representantes da escola precisam ter como responsabilidade, respeito com os demais, criatividade, ser bom ouvinte, planejar, organizar, acreditar em si (autoconfiança).
“Falamos de sugestões e de possíveis projetos, campeonatos, festividades, clubes que possam vir a ser criados pelo Grêmio junto à direção da escola e finalizamos com uma breve autoavaliação”, concluiu a coordenadora.
Ao término da conversa, alguns jovens já conseguiam identificar em qual cargo se encaixariam melhor dentro de um Grêmio.
O Grêmio Estudantil está inserido do IV eixo temático que integra o Documento-Final da Conferência Nacional de Educação (Conae 2024), que serve de base para o Plano Nacional de Educação (2024-2034).
Gecom realiza ação pela educação com estudantes
O Grupo de Comunicação para o Terceiro Setor realizou duas rodas de conversa, nos dias 20 e 23 de junho, com jovens estudantes de escola pública de Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.
Como o tema “Descolonização do financiamento da educação e o último ano do Plano Nacional de Educação” era de desconhecimento dos jovens, a roda de conversa se concentrou em partir de um ponto introdutório sobre o que seria uma educação de qualidade dentro de dois eixos do Manual da SAM: “financiamento da educação: investir mais e melhor na educação” e “educação inclusiva: anticapacitista, anti-racista e não-sexista”.
Os participantes foram contextualizados sobre o cenário onde a escola está situada, como a greve de professores, falta de concurso público, contratação de professores e a austeridade fiscal.
Os jovens estudantes tiveram a oportunidade de fazerem reflexões sobre o que seria uma educação de qualidade sem que houvesse qualquer julgamento de valor ou juízo sobre certo ou errado, sendo provocados a exporem suas opiniões sem repressões, o que gerou um debate rico de ideias.
Todos foram unânimes em admitir que a pandemia afetou bastante o ensino e que o novo ensino médio “piorou o que já tinha”, sugerindo um “outro novo ensino médio”. Eles acreditam que são vistos como “máquinas de decorar”, o que eles rejeitam.
Seus desejos são ter aulas mais tecnológicas, com uso de projetores, slides, filmes, tablets, além do uso de celular como ferramenta de pesquisa em sala de aula. Também, acreditam que uma educação de qualidade envolve a acessibilidade regular de laboratório e de biblioteca escolar. Assim, com aulas mais práticas, incluindo disciplinas como Filosofia e Sociologia, fariam os alunos se sentirem estimulados a estarem mais tempo nas escolas.
Ao mencionar como eles lidam com as “diferenças”, muitas questões e exemplos surgiram, o que gerou alguns pontos de divergências e outros em comum. Talvez por uma falta de questão de (con) vivência, como o exemplo citado por uma participante sobre aula de vôlei sentado, para incluir um aluno com deficiência, uma vez que na percepção dela o esporte se pratica em pé. Para ela seria uma novidade e somente depois poderia avaliar a nova experiência. O racismo também teve uma percepção similar, pois alguns acreditam que a fala é ofensiva para quem ouve e não é ofensiva para quem profere determinados termos racistas. Quanto à questão LGBTQIA+, alguns enxergam os protestos como necessários para levantar discussões e reivindicar direitos. Outros, veem como uma prática que reforça a exclusão desse mesmo grupo. O uso de linguagem neutra também foi um ponto destacado pelos alunos que disseram serem contra o uso, principalmente por causar ainda mais confusão no processo de aprendizagem.
Ao final de dois dias de encontro, os alunos se mostraram bastante interessados em dar prosseguimento ao assuntos discutidos em outros momentos.
Conheça a SAM no site www.semanadeacaomundial.org
Semana da Ação Mundial 2023
A Semana da Ação Mundial (SAM) é a maior atividade de mobilização pela educação no mundo.
A SAM é uma iniciativa realizada simultaneamente em mais de 100 países, desde 2023, com o objetivo de informar e engajar a população em prol do direito à educação, de diversas maneiras.
Lançada pela Campanha Global pela Educação (CGE), a Semana exerce pressão sobre os governos para que cumpram os acordos internacionais da área, como os compromissos do Marco Ação Educação 2030, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) propostos na Agenda 2030.
De 2003 a 2022, a SAM já mobilizou mais de 95 milhões de pessoas em todo o mundo! Somente no Brasil, foram 2,2 milhões de pessoas mobilizadas. É a maior atividade de mobilização da sociedade civil pelo direito humano à educação no Brasil e no mundo, com o objetivo de estimular a formação política.
A cada ano, a Semana se dedica a um tema específico que, em geral, se relaciona à agenda do Plano Nacional de Educação (PNE). Em 2023, mundialmente, a mobilização da SAM marca a necessidade de discutirmos sobre o financiamento da educação no pós-pandemia, apresentando porque somos contra as políticas de austeridade e a favor da justiça tributária, defendendo a descolonização do financiamento da educação.




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