terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Jornalismo no Terceiro Setor: uma experiência de sucesso

Diego Sanches é jornalista formado pela Unigranrio, em Duque de Caxias. / Divulgação



“Jornalismo não é simplesmente uma técnica. Tampouco é mera emissão de opiniões. Trata-se de uma ciência, cujo ensino universitário proporciona a formação de profissionais críticos, conscientes do seu papel social, comprometidos com a ética e com o entendimento acerca do poder da informação.”

A avaliação acima é dos participantes da live “PEC do Diploma: uma necessidade para garantir a excelência na informação”, realizada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Paraíba e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).


Em 2009, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela não obrigatoriedade do diploma de nível superior específico em jornalismo para o exercício da profissão no Brasil. No entanto, empresas de comunicação, estatais, setores privados e o terceiro setor (mesmo que de forma tímida) ainda preferem contratar profissionais formados na área.


Diego Sanches é formado em Jornalismo pela Unigranrio, possui MBA em Marketing de Redes Sociais e, atualmente, é supervisor de Comunicação na Agência do Bem, uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP).

Durante a formação, teve a oportunidade de trabalhar como freelancer na página de conteúdo geek, Somos Mesclados.com, atuando como redator e repórter em eventos do universo geek. Iniciou a carreira profissional como produtor de TV na rede Globo e na RIT TV, onde aprendeu a lidar com os desafios da produção audiovisual e aprimorar habilidades de coordenação de equipe.

Atuou como produtor de podcast e social media na Lions Seminovos e, posteriormente, como social media na Xtreme Agência. Hoje, na Agência do Bem, colabora com estratégias para promover causas sociais e gerar impacto positivo por meio da comunicação.


Gecom: O que o motivou a se formar em Jornalismo?

Diego Sanches: Desde pequeno, eu sempre fui obcecado em ler e em falar, tanto que uma das melhores memórias da minha infância era eu sendo narrador em peças no colégio. A paixão pelo jornalismo começou quando meu pai começou a trazer para mim os jornais, mostrando-me outro lado da comunicação que eu não conhecia. No ensino fundamental, dois professores me motivaram muito a seguir a área da comunicação, e foi nesse momento que me apaixonei pelo jornalismo.


Gecom: Em sua opinião, como a formação acadêmica na área de jornalismo pode colaborar para o profissionalismo da Comunicação no Terceiro Setor?

Diego Sanches: A comunicação é uma ferramenta essencial para o trabalho no terceiro setor, e a formação em jornalismo proporciona uma visão mais ampliada. Costumo dizer que a função do jornalista é mudar vidas, e o jornalismo do terceiro setor é a personificação dessa mudança.


Em sua trajetória como jornalista, Diego adquiriu experiências na produção audiovisual, mídias socias e coordenação de equipe, contribuindo para o terceiro setor. / Divulgação



Gecom: Enquanto morador de Duque de Caxias, qual sua análise em relação à oferta e procura de cursos de graduação em Jornalismo na Baixada Fluminense?

Diego Sanches: Infelizmente, hoje em dia, não há mais faculdades presenciais de jornalismo em Duque de Caxias. A última era a Unigranrio, onde me formei, porém a portaria de comunicação foi encerrada. Nascido e sendo morador da Baixada Fluminense, sinto uma tristeza imensa em ver que não há mais cursos de jornalismo em Caxias.


Gecom: Conte um pouco sobre seu trabalho na área de Comunicação na Agência do Bem.

Diego Sanches: Minha relação com projetos sociais vem desde 2015, quando entrei em um grupo chamado Mídia Força Jovem Universal (Mídia FJU). Neste grupo, criei e produzi conteúdos para atender jovens e adultos que lidavam com problemas de depressão, ansiedade e pensamentos lesivos. Até hoje, faço parte deste projeto e me orgulho muito de ser um dos mais antigos. Na Agência do Bem, tenho a oportunidade e o privilégio de trabalhar com a educação musical para crianças e jovens de comunidades carentes do Rio de Janeiro, através das Escolas de Música e Cidadania. Também trabalho na Rede do Bem, projeto que auxilia outros projetos sociais. Sinto muito orgulho, pois desde o início da minha caminhada para ser um jornalista, meu objetivo era mudar vidas através do meu trabalho. Hoje, posso dizer que meu objetivo está se concretizando cada dia mais.


Na Agência do Bem, Diego tem a oportunidade de mudar vidas por meio do jornalismo, auxiliando outros projetos sociais. / Divulgação




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terça-feira, 21 de novembro de 2023

A importância de um projeto de comunicação na formação acadêmica

 

Adilson Cabral é doutor e mestre em Comunicação Social  e idealizador da BemTV Produções Artísticas. / Divulgação 


A faculdade pode oferecer uma excelente oportunidade para criar projetos, tornando-os em produtos concretos fora do ambiente acadêmico.

Em Niterói, temos uma experiência com a BemTV Produções Artísticas, ONG que forma jovens comunicadores na região, criada pelo professor do Curso de Comunicação Social na Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Programa de Pós-graduação em Mídia e Cotidiano (PPGMC-UFF), Adilson Cabral.


Autor de livros e artigos em Políticas de Comunicação, com ênfase em Comunicação Comunitária, atuando principalmente nos seguintes temas: políticas de comunicação, democratização da comunicação, apropriação social das TICs, comunicação comunitária e digitalização das comunicações, Adilson Cabral é doutor e mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), com pós-doutorado na Universidade Carlos III de Madrid (UC3M).


A seguir, confira como isso é possível.


Gecom: Qual a importância de estudar temas como política, cultura e comunicação para as mídias comunitárias e mídias independentes?

Adilson Cabral: Compreender melhores capacidades de atuação, em articulação com setores organizados da sociedade potencialmente mobilizadoras de expressões cidadãs. Importante compreender o papel da comunicação em sua expressão articuladora de culturas e mobilizadora por políticas.


Adilson Cabral acredita que a comunicação tem um papel importante na articulação de culturas e mobilização por políticas. / Divulgação



Gecom: Você é o criador da BemTV Produções Artísticas, que teve origem na faculdade e que hoje é uma ONG que forma comunicadores em Niterói. O que você recomenda aos estudantes de Jornalismo quando forem fazer um trabalho de conclusão de curso e desejam torná-lo em um projeto profissional?

Adilson Cabral: A BemTV não foi criada como projeto de TCC, mas de extensão, a partir de nossa mobilização como estudantes de comunicação, vindos de uma experiência de movimento estudantil e de contato com uma experiência de oficina popular de comunicação do Encontro Nacional de Estudantes, em São Luís do Maranhão. As recomendações estão aí: participe do que estiver ao alcance sempre, se inspire pelo que te motivar e procure viabilizar formas de fazer acontecer o que você acredita.


Gecom: Quais são os desafios acadêmicos para lecionar Jornalismo e quais as propostas sugeridas para resolver essas questões?

Adilson Cabral: Eu sou professor no Curso de Comunicação Social que conta atualmente com uma única habilitação, que é a de Publicidade e Propaganda, curso no qual me formei também (isso no século passado). Pela proximidade com colegas e conteúdos relacionados ao Jornalismo, mas também pela minha atuação no campo da Comunicação, compreendo que as dificuldades de se lecionar hoje Jornalismo estão relacionadas à credibilidade pela qual passam tanto o profissional quanto sua atividade, diante tanto do processo crônico de desinformação pelo qual passa a sociedade atualmente, como da própria incapacidade da indústria midiática em passar credibilidade em seus produtos jornalísticos.




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terça-feira, 17 de outubro de 2023

Comunicação, educação e arte como ferramentas de boas mudanças

Victor Meirelles usa a comunicação, arte e educação como ferramentas no combate ao bullying, racismo, gordofobia, capacitismo e outros tipos de violência. / Divulgação


"Em favor de que estudo? Em favor de quem? Contra que estudo? Contra quem estudo?", as indagações de Paulo Freire, patrono da Educação no Brasil, descrita em seu livro "Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa", nos faz refletir sobre a impossibilidade de estudar por estudar. Somos sujeitos de nossa história, capazes de intervir na realidade e gerar saberes.

O arte-educador, pesquisador, jornalista e ativista cultural Victor Meirelles sabe disso e acredita no potencial do tripé arte-educação-comunicação como elementos de artivismo e boas mudanças.

Victor Meirelles é carioca da gema, cria do Complexo de Favelas da Coreia, Senador Camará, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Em sua caminhada educacional, passou pela formação em mediação de Educação, Arte e Cultura e curadoria de arte da Escola do Olhar do Museu de Arte do Rio. Atuou na Companhias de Teatro: Castelo Branco – UCB, Renato Prieto, Contrabando de Teatro e No Palco da Vida em espetáculos como Os Meninos da Rua Paulo, Cantos do Brasil, Hippe, A Casa Tomada, Nada Me Aflige, Encontros Impossíveis, A Morte é uma Piada 2, Anti Nelson Rodrigues.  É mestre na Universidade das Quebradas PACultura Contemporânea Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Psicossociologia da Saúde, licenciado em Letras e estudou Direito na UniverCidade. Escritor e poeta da Festa Literária das Periferias (FLUP), entre outros coletivos de arte, educação e cultura. Autor do livro "Marcos e Marcos", um dos idealizadores, produtores e pesquisador da biografia "Chica Xavier, a Mãe do Brasil", organizou os livros "Olhar Poético - Bicentenário de In dependências" e "O Poder das Palavras - Independências Poéticas" a partir de oficinas de escritas criativas com cegos, população de rua, mulheres, idosos e jovens e adultos negros. Fundou o Negócio de Impacto Social Arte Faz Parte Arte Educação e o Centro Cultural Chica Xavier, com José Valdenir. Também teve passagens pela TV e cinema, e atualmente está como coprotagonista do filme “Quando lembro de Chico”, disponível no Amazon Prime. No mês da Educação, nosso entrevistado, com experiência na arte de educar e comunicar, seja aprendendo ou ensinando, nos prestigia com seus conhecimentos para trabalharmos com uma comunicação mais humanizadora. Afinal, todos nós somos protagonistas de nossa própria história.

Gecom: Em 2008, você criou o Negócio de Impacto Social Arte Faz Parte Arte Educação e no ano seguinte já era apresentador do Programa Rio Cultural, na Rádio Rio de Janeiro. Como essa experiência na rádio contribuiu para o seu empreendimento social e outros projetos?

Victor Meirelles: Apesar de nunca ter imaginado que seria radialista, para mim foi um ótimo desafio articulado pelo João Pedro (apresentador do programa, na época). Estar neste veículo de comunicação, para mim, foi mergulhar em um mar de trocas constantes. A cada braçada e tomada de fôlego entre as entrevistas era uma onda de conhecimento e uma gigante rede que ia se construindo e promovendo um arrastão de conexões, que formavam e ainda formam correntezas de oportunidade. E neste navegar, tive o prazer de me banhar de vários profissionais da comunicação, arte, educação, saúde, um verdadeiro desaguar de todas as regiões, Ferreira Goulart, Ana Rosa, Renato Prieto, Nicete Bruno, Dhu Moraes, Dha Gama, Robertinho Silva, Wanderson Lemos, Fábio Deluca entre tantos em 10 anos de programa. Foram nessas ondas de rádio que fiz e faço várias parcerias que colaboraram e colaboram com os nossos projetos.

Victor criou o Negócio de Impacto Social Arte Faz Parte Arte Educação e é um dos fundadores do Centro Cultural Chica Xavier. / Divulgação


Gecom: Uma de suas principais ações é o combate ao bullying nas escolas e, para isso, você une arte, educação e comunicação. Como essas linguagens se conectam neste seu propósito?

Victor Meirelles: Quando colocamos à mesa um assunto de um paladar tão forte, pesado e um tanto difícil de engolir e que pode causar sérias congestões ao longo de uma vida, precisamos de um tempero e de uma mão de arte e uma mistura de educação afetiva, para tornar uma refeição mais leve e de sabor mais palatável. Então, o teatro, literatura, música e a poesia podem ser ótimos aliados para de forma lúdica nos conectarmos aos alunos e discutirmos sobre situações e assuntos que os atravessam pela trajetória educacional, que os levam ao sofrimento. E em meio a risos e diversão falamos sobre a importância do cuidado que devemos ter uns com os outros. E assim, por meio de uma comunicação não violenta, da educação antirracista e da beleza, potência e poesia, da arte em todas suas formas do fazer, em uma trabalho vivo, em ato e arte nas salas de aula são possíveis e eficazes as linguagens no processo de cuidado e na promoção da conscientização, prevenção e combate ao bullying e à violência nas comunidades escolares.

Gecom: O que você recomenda aos profissionais de comunicação que trabalham ou queiram trabalhar em ONGs com arte e educação, para divulgar suas causas e fortalecer a instituição?

Victor Meirelles: Acredito sempre em todas as formas de troca, capacitação, qualificação, aprendizagem. Conhecer e estar disponível a se relacionar com novas formas de fazer e que, sim, podemos nos divertir falando de algo sério, podemos tratar de assuntos chatos dando boas risadas. E se lançar como uma flecha e entender que sua trajetória pode atravessar o tempo e percorrer outras existências e possibilidades de promover boas mudanças.

O arte-educador fez de seu projeto de vida um ativismo, incentivando a leitura e debates como bullying e diversidade, em subúrbios e periferias do Rio de Janeiro. / Divulgação




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terça-feira, 19 de setembro de 2023

Design: desafios e sua importância para o Terceiro Setor

Karina Silva é designer e CEO na Agência Hey Karina Silva. Divulgação

Criatividade, dinamismo, capacidade de escutar o outro e se colocar como um "megafone" para outras vozes, podem ser considerados os pilares de um profissional de design que pretende trabalhar no Terceiro Setor.

Karina Silva é designer e CEO na Agência Hey Karina Silva com formação em Design Gráfico e Web Design, pela Zion Escola de Entretenimento (Duque de Caxias), Empreendedorismo (Unicesumar) e High Ticket (Wonder Maison).

Ela nos conta como essas características podem ser úteis no dia-a-dia de um designer trabalhando a Comunicação no Terceiro Setor.


Gecom: Como a formação acadêmica na área de design colabora para o profissionalismo da Comunicação no Terceiro Setor?

Karina Silva: A principal função do design é solucionar um problema. Logo, a formação entra para impulsionar e alavancar estratégias nas atuações do terceiro setor. Podemos dividir o design em algumas formas: o design gráfico, o web design (mais voltado para sites) e o design thinking. No contexto do terceiro setor conseguimos encaixar de forma mais implacável o design thinking. Os design thinkers produzem soluções que geram novos significados e estimulam os aspectos humanos, contribuem para que equipes possam compreender e identificar as problemáticas vivenciadas dentro da organização.


Karina é designer com experiência no Terceiro Setor e usa a criatividade para solucionar problemas de comunicação mas ONGs. / Divulgação


Gecom: Conte sua experiência como designer no Terceiro Setor.

Karina Silva: Por ser designer do terceiro setor, tive a oportunidade de poder ficar por dois anos fazendo trabalhos voluntários de forma mais ativa. Viajei pelos estados do Brasil conhecendo histórias, utilizando a criatividade para solucionar problemas, criando comunicação visual e estruturas para ONGs e igrejas. Acredito que o mais marcante foi um projeto contra tráfico humano e cuidado com mulheres. Por falta de visibilidade e conhecimento, não sabemos que precisamos ouvir algumas vozes e, como designer, essa foi a minha função, ser um megafone para algumas vozes.


A designer incentiva os futuros profissionais a desbravarem o mundo sem medo para que possam desenvolver a criatividade. / Divulgação

Gecom: Em sua opinião, quais os desafios e sugestões para as instituições de ensino na formação de novos designers, principalmente para aqueles que desejam trabalhar no Terceiro Setor?

Karina Silva: Coloquem seus alunos em prática. O que aprendi, a bagagem que acumulei em dois meses de trabalho voluntário foi muito maior do que os anos de graduação, apenas pelo fato de ter que realmente fazer acontecer. 

O maior desafio que enfrentei foi ter a segurança de tomar as rédeas de um projeto, em ter confiança. Apesar de saber exatamente o que deveria ser feito, justamente por não ter tido a prática de forma mais ativa, tive medo e, por isso, algumas grandes oportunidades foram perdidas.

Instituições, invistam na prática para seus alunos. Não ensinem apenas a teoria, ensinem como sobreviver no mercado.

Futuros designers, olhem o mundo. Desbrave. Não tenha medo. Criatividade não é um dom. O fato de você resolver problemas, mostra que você é criativo ainda mais com pouco recurso. O terceiro setor precisa de você. Ele conta com você. Te convido a ser um megafone para que vozes abandonadas comecem a ser ouvidas.




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terça-feira, 15 de agosto de 2023

Relações Públicas e a qualificação profissional no Terceiro Setor

Lívia Cristina é formada em Relações Públicas e exerce a função de analista de relacionamento institucional no Instituto Dara. / Divulgação


De acordo com dados da pesquisa “A importância do Terceiro Setor para o PIB no Brasil e em suas regiões”, publicada em março deste ano, o Terceiro Setor contribui 4,27% para o PIB brasileiro. A geração de emprego total no Brasil é cerca de 5,88%, conforme a pesquisa. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), os postos de trabalhos formais e informais remunerados gerados pelo Terceiro Setor são de 7,4% no Rio de Janeiro, o que demonstra sua importância para a economia brasileira. Essa contribuição só é possível com a qualificação de profissionais dentro do setor, sendo crucial uma aprendizagem constante, que ultrapasse a formação acadêmica.

Lívia Cristina Nunes Teixeira, 27 anos, é formada em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas, pela Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), possui especialização em Comunicação em Crises Organizacionais, pela Universidade Anhembi Morumbi e, atualmente, cursa Gestão de Projetos (MBA USP/ESALQ).

Lívia Cristina está como Analista de Relacionamento Institucional, no Instituto Dara, há mais de cinco anos e compartilha suas experiências e dicas valiosas no Terceiro Setor, na entrevista abaixo.


Gecom: Como a formação em Relações Públicas contribuiu para sua profissionalização no Terceiro Setor?


Lívia Cristina: A minha formação em Relações Públicas desempenhou um papel fundamental para estar no Terceiro Setor. Sempre falo que o relações públicas abre muitas portas e no Terceiro Setor precisamos dessas portas de conhecimento. Eu brinco dizendo que o setor é como um polvo. Cheio de tentáculos onde a gente tem vários tipos de atuação. Ter esse conhecimento de relações públicas dentro do Terceiro Setor foi um diferencial, porque através dos conhecimentos que adquiri durante o curso, eu pude desempenhar habilidades de comunicação estratégica, gestão de relacionamentos, que a gente utiliza muito com doadores, gestão de crise, não que necessariamente nesta organização em que estou tenha uma gestão de crise, mas diariamente a gente tem sempre que pensar em mitigar danos, o que pode gerar crise, comunicação interna, onde temos sempre que comunicar com equipes, fazer uma comunicação clara, entender com quem você está falando, principalmente a ética e a responsabilidade social, que deve permear todo seu processo quando se está exercendo qualquer função dentro do Terceiro Setor, porque você vai ser cobrado por isso. A transparência e a comunicação eficaz vão ser cobradas rotineiramente. Também tem a gestão de projetos, que é onde eu atuo com mais empenho, assim como na área de relacionamento institucional, algo que o mercado pede bastante, principalmente as empresas privadas com ESG. E o planejamento de eventos, corriqueiramente temos alguns eventos que a gente faz e pede doações.

A minha formação em Relações Públicas passa por todas essas áreas e me deu a capacidade de entender as necessidades e expectativas de diferentes partes interessadas, doadores, colaboradores, voluntários, trabalhadores, que são o nosso principal olhar e me permitiu estabelecer relações mais eficazes e claras.

Entender qual a linguagem para cada uma dessas pessoas, foi algo bem importante. Além disso, consegui criar campanhas, conscientizações, engajamentos com público interno e externo. Basicamente, é um pouquinho disso, porque a gente lida a todo momento com desafios e esses desafios pedem um olhar estratégico atrelado à ética que se torna crucial para um ambiente de transparência, de confiança, fundamentais para o nosso dia-a-dia dentro do Terceiro Setor.


Em seu trabalho, Lívia oferece orientação para os voluntários corporativos. / Divulgação



Gecom: Atualmente, você desempenha a função de relacionamento institucional no Instituto Dara. Conte um pouco sobre esse trabalho.


Lívia Cristina: Hoje, dentro da minha área de Relacionamento Institucional, no Instituto Dara, ela é centrada em cultivar e fortalecer parceria e relacionamentos com outras organizações que o instituto entenda estarem alinhadas com a política da missão, visão e valores. A gente diz muito que estabelece conexões que vão para além de só questões comerciais, nos preocupamos com todas as pessoas que estão envolvidas em nosso processo, de conversas em nosso dia-a-dia. Trabalho na gestão de projetos, escrevendo e elaborando, entre outras atividades que realizo. Identificamos os parceiros estratégicos, conversamos, fazemos reuniões, apresentamos o Instituto Dara, buscamos negociações e engajamento. Em todo o processo a gente tem que estar envolvido para trazer a sustentabilidade da organização. Muitas organizações hoje têm essa questão de entender a captação, tanto a pessoa física como a pessoa jurídica. Então, a negociação e o engajamento são muito importantes, porque têm que estabelecer esses contatos. Além disso, a gente tem o Desenvolvimento de Relacionamentos, pois constantemente estamos desenvolvendo relacionamentos com pessoas que vão prestar serviços com a gente, como os advogados que vão fazer nossos contratos, balanço que vai ter da organização. Falamos com empresas, com unidades encaminhadoras, com o serviço social. Então, temos que estabelecer relacionamento a todo momento com qualquer pessoa dentro e fora da organização. Isso é primordial e que faço no meu dia-a-dia.


Equipe de Relacionamento Internacional e o Serviço Social, braços direito e esquerdo da profissional. / Divulgação



Gecom: O ensino da Comunicação no meio acadêmico vem evoluindo, buscando acompanhar as novas tendências do consumidor e os avanços da mídias digitais. Como você tem observado esses resultados na entrada de novos profissionais de Comunicação no mercado, em especial no Terceiro Setor?


Lívia Cristina: Observo por dois viés. Tem os profissionais que estão saindo do meio acadêmico muito crus para a demanda do Terceiro Setor. Hoje, no Terceiro Setor, você não exerce somente uma função, mas várias funções. Você absorve alguns conhecimentos que são de áreas não necessariamente de comunicação, mas tem que ter o domínio, porque são poucos profissionais. Dentro do Terceiro Setor, geralmente são equipes muito enxutas, então os profissionais têm que saber um pouco de tudo. Eu observo isso com os estagiários que a gente tem na instituição. Alguns estagiários estão próximos de se formarem, mas ainda estão muito crus, indecisos de como é que atua no Terceiro Setor por ser tão dinâmico e pedir muito. Por outro lado, existem muitos profissionais que estão para se formar, com muita bagagem de aprendizagem. Conhecem muito sobre mídias digitais, redes sociais, contribuem com apresentações dinâmicas com um olhar jovial, pois é isso que o Terceiro Setor precisa, dessa renovação constante. Eles conseguem enfatizar informações, comunicações multicanais, capacidade de transformar mensagens que precisam ser comunicadas para os colaboradores de um forma e depois para um doador de outra forma parecida, mas com uma outra linguagem nos meios de comunicação. Eles conseguem se adaptar e entender essa mudança de linguagem, de conteúdos. Eu sempre falo, “dentro do Terceiro Setor, você tem que gostar, você tem que amar”, porque desempenhamos muitas funções com pouco recurso. Essa é a realidade de hoje em dia.

Acho muito positivo esses profissionais com essa adaptação do mercado de trabalho, com essa visão do ensino de comunicação. Estar nesse processo mercadológico é muito importante para o Terceiro Setor. Fora que não podemos esquecer da questão da humanização. São pessoas que gostam do Terceiro Setor e têm esse olhar mais humanizado. Uma comunicação com ética, clareza e sempre com respeito aos beneficiários. Eles adquirem durante o processo um olhar de comunicação estratégica. Isso, às vezes, é bem difícil de entender. Não são todos os profissionais que têm essa expertise, ela se adquire com o tempo. O Terceiro Setor exige muito do profissional, mas também é uma “mãe”. Ele ensina todos os dias, constrói esse profissional, esse indivíduo que está se consolidando.


Gecom: O que você sugere aos profissionais de Comunicação e aos recém-formados que tenham interesse em trabalhar no Terceiro Setor?


Lívia Cristina: Para os recém-formados, pode se fazer uma pesquisa, conhecer como é o Terceiro Setor, as dificuldades que a gente tem diariamente, pode ser fundamental para compreender a profundidade da natureza que são os desafios, os sabores, os dissabores e as oportunidades que o Terceiro Setor tem para oferecer a esses profissionais.

Antes de eu entrar na faculdade, já era voluntária. Acho que voluntariar e estagiar são maneiras eficazes de adquirir experiência e entender como é o dia-a-dia, as relevâncias, as estratégias, um olhar mais crítico. Você está indo para se doar, mas é um funcionário. É preciso entender até onde vai o meu conhecimento, até onde o Terceiro Setor pode contribuir comigo, até onde estou mudando e impactando a vida de pessoas que estão em vulnerabilidade social, econômica e psicológica. Tem que entender todo esse  processo.

O Terceiro Setor desenvolve e precisa de pessoas com uma comunicação mais abrangente, com uma variedade de atividades, um profissional com habilidades diversas. Os profissionais que eu vejo recém-formados dizem “ah, eu gosto do Terceiro Setor”, mas não entendem que precisam ter um olhar multissetorial. Não adianta falar só sobre saúde, mas também sobre educação, moradia, renda, cidadania, tem que entender o mecanismo que há por trás do Terceiro Setor, pois requer muito preparo, humanização do processo. Além de tudo isso, tem que demonstrar paixão. Porque a gente lida com pessoas, animais, causas ambientais. Tem que ser apaixonado. Porque vão ter dias que você vai estar sobrecarregado, dias que vai querer largar tudo, como em qualquer emprego, mas acaba lembrando para quem trabalha, para quem está direcionando todos os seus esforços. Isso muda o seu olhar, sua perspectiva e sua pretensão, seu plano de vida, porque você está fazendo parte de uma engrenagem maior, que é a mudança de vidas, mudança de pessoas, mudança de animais, mudança de cuidados.

É sempre bom criar uma rede de contatos, aprender sobre sustentabilidade financeira, que é um diferencial. Isso é um combo de uma dica para um bom profissional que está entrando agora no Terceiro Setor. E vá com toda a paixão do mundo, porque é isso que o Terceiro Setor precisa. Pessoas engajadas, pessoas apaixonadas conseguem mudar o mundo. Sempre busque o que você ama. Vá com “paixão nos olhos” como eu tenho há mais de cinco anos dentro do Terceiro Setor.




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