terça-feira, 15 de agosto de 2023

Relações Públicas e a qualificação profissional no Terceiro Setor

Lívia Cristina é formada em Relações Públicas e exerce a função de analista de relacionamento institucional no Instituto Dara. / Divulgação


De acordo com dados da pesquisa “A importância do Terceiro Setor para o PIB no Brasil e em suas regiões”, publicada em março deste ano, o Terceiro Setor contribui 4,27% para o PIB brasileiro. A geração de emprego total no Brasil é cerca de 5,88%, conforme a pesquisa. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), os postos de trabalhos formais e informais remunerados gerados pelo Terceiro Setor são de 7,4% no Rio de Janeiro, o que demonstra sua importância para a economia brasileira. Essa contribuição só é possível com a qualificação de profissionais dentro do setor, sendo crucial uma aprendizagem constante, que ultrapasse a formação acadêmica.

Lívia Cristina Nunes Teixeira, 27 anos, é formada em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas, pela Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), possui especialização em Comunicação em Crises Organizacionais, pela Universidade Anhembi Morumbi e, atualmente, cursa Gestão de Projetos (MBA USP/ESALQ).

Lívia Cristina está como Analista de Relacionamento Institucional, no Instituto Dara, há mais de cinco anos e compartilha suas experiências e dicas valiosas no Terceiro Setor, na entrevista abaixo.


Gecom: Como a formação em Relações Públicas contribuiu para sua profissionalização no Terceiro Setor?


Lívia Cristina: A minha formação em Relações Públicas desempenhou um papel fundamental para estar no Terceiro Setor. Sempre falo que o relações públicas abre muitas portas e no Terceiro Setor precisamos dessas portas de conhecimento. Eu brinco dizendo que o setor é como um polvo. Cheio de tentáculos onde a gente tem vários tipos de atuação. Ter esse conhecimento de relações públicas dentro do Terceiro Setor foi um diferencial, porque através dos conhecimentos que adquiri durante o curso, eu pude desempenhar habilidades de comunicação estratégica, gestão de relacionamentos, que a gente utiliza muito com doadores, gestão de crise, não que necessariamente nesta organização em que estou tenha uma gestão de crise, mas diariamente a gente tem sempre que pensar em mitigar danos, o que pode gerar crise, comunicação interna, onde temos sempre que comunicar com equipes, fazer uma comunicação clara, entender com quem você está falando, principalmente a ética e a responsabilidade social, que deve permear todo seu processo quando se está exercendo qualquer função dentro do Terceiro Setor, porque você vai ser cobrado por isso. A transparência e a comunicação eficaz vão ser cobradas rotineiramente. Também tem a gestão de projetos, que é onde eu atuo com mais empenho, assim como na área de relacionamento institucional, algo que o mercado pede bastante, principalmente as empresas privadas com ESG. E o planejamento de eventos, corriqueiramente temos alguns eventos que a gente faz e pede doações.

A minha formação em Relações Públicas passa por todas essas áreas e me deu a capacidade de entender as necessidades e expectativas de diferentes partes interessadas, doadores, colaboradores, voluntários, trabalhadores, que são o nosso principal olhar e me permitiu estabelecer relações mais eficazes e claras.

Entender qual a linguagem para cada uma dessas pessoas, foi algo bem importante. Além disso, consegui criar campanhas, conscientizações, engajamentos com público interno e externo. Basicamente, é um pouquinho disso, porque a gente lida a todo momento com desafios e esses desafios pedem um olhar estratégico atrelado à ética que se torna crucial para um ambiente de transparência, de confiança, fundamentais para o nosso dia-a-dia dentro do Terceiro Setor.


Em seu trabalho, Lívia oferece orientação para os voluntários corporativos. / Divulgação



Gecom: Atualmente, você desempenha a função de relacionamento institucional no Instituto Dara. Conte um pouco sobre esse trabalho.


Lívia Cristina: Hoje, dentro da minha área de Relacionamento Institucional, no Instituto Dara, ela é centrada em cultivar e fortalecer parceria e relacionamentos com outras organizações que o instituto entenda estarem alinhadas com a política da missão, visão e valores. A gente diz muito que estabelece conexões que vão para além de só questões comerciais, nos preocupamos com todas as pessoas que estão envolvidas em nosso processo, de conversas em nosso dia-a-dia. Trabalho na gestão de projetos, escrevendo e elaborando, entre outras atividades que realizo. Identificamos os parceiros estratégicos, conversamos, fazemos reuniões, apresentamos o Instituto Dara, buscamos negociações e engajamento. Em todo o processo a gente tem que estar envolvido para trazer a sustentabilidade da organização. Muitas organizações hoje têm essa questão de entender a captação, tanto a pessoa física como a pessoa jurídica. Então, a negociação e o engajamento são muito importantes, porque têm que estabelecer esses contatos. Além disso, a gente tem o Desenvolvimento de Relacionamentos, pois constantemente estamos desenvolvendo relacionamentos com pessoas que vão prestar serviços com a gente, como os advogados que vão fazer nossos contratos, balanço que vai ter da organização. Falamos com empresas, com unidades encaminhadoras, com o serviço social. Então, temos que estabelecer relacionamento a todo momento com qualquer pessoa dentro e fora da organização. Isso é primordial e que faço no meu dia-a-dia.


Equipe de Relacionamento Internacional e o Serviço Social, braços direito e esquerdo da profissional. / Divulgação



Gecom: O ensino da Comunicação no meio acadêmico vem evoluindo, buscando acompanhar as novas tendências do consumidor e os avanços da mídias digitais. Como você tem observado esses resultados na entrada de novos profissionais de Comunicação no mercado, em especial no Terceiro Setor?


Lívia Cristina: Observo por dois viés. Tem os profissionais que estão saindo do meio acadêmico muito crus para a demanda do Terceiro Setor. Hoje, no Terceiro Setor, você não exerce somente uma função, mas várias funções. Você absorve alguns conhecimentos que são de áreas não necessariamente de comunicação, mas tem que ter o domínio, porque são poucos profissionais. Dentro do Terceiro Setor, geralmente são equipes muito enxutas, então os profissionais têm que saber um pouco de tudo. Eu observo isso com os estagiários que a gente tem na instituição. Alguns estagiários estão próximos de se formarem, mas ainda estão muito crus, indecisos de como é que atua no Terceiro Setor por ser tão dinâmico e pedir muito. Por outro lado, existem muitos profissionais que estão para se formar, com muita bagagem de aprendizagem. Conhecem muito sobre mídias digitais, redes sociais, contribuem com apresentações dinâmicas com um olhar jovial, pois é isso que o Terceiro Setor precisa, dessa renovação constante. Eles conseguem enfatizar informações, comunicações multicanais, capacidade de transformar mensagens que precisam ser comunicadas para os colaboradores de um forma e depois para um doador de outra forma parecida, mas com uma outra linguagem nos meios de comunicação. Eles conseguem se adaptar e entender essa mudança de linguagem, de conteúdos. Eu sempre falo, “dentro do Terceiro Setor, você tem que gostar, você tem que amar”, porque desempenhamos muitas funções com pouco recurso. Essa é a realidade de hoje em dia.

Acho muito positivo esses profissionais com essa adaptação do mercado de trabalho, com essa visão do ensino de comunicação. Estar nesse processo mercadológico é muito importante para o Terceiro Setor. Fora que não podemos esquecer da questão da humanização. São pessoas que gostam do Terceiro Setor e têm esse olhar mais humanizado. Uma comunicação com ética, clareza e sempre com respeito aos beneficiários. Eles adquirem durante o processo um olhar de comunicação estratégica. Isso, às vezes, é bem difícil de entender. Não são todos os profissionais que têm essa expertise, ela se adquire com o tempo. O Terceiro Setor exige muito do profissional, mas também é uma “mãe”. Ele ensina todos os dias, constrói esse profissional, esse indivíduo que está se consolidando.


Gecom: O que você sugere aos profissionais de Comunicação e aos recém-formados que tenham interesse em trabalhar no Terceiro Setor?


Lívia Cristina: Para os recém-formados, pode se fazer uma pesquisa, conhecer como é o Terceiro Setor, as dificuldades que a gente tem diariamente, pode ser fundamental para compreender a profundidade da natureza que são os desafios, os sabores, os dissabores e as oportunidades que o Terceiro Setor tem para oferecer a esses profissionais.

Antes de eu entrar na faculdade, já era voluntária. Acho que voluntariar e estagiar são maneiras eficazes de adquirir experiência e entender como é o dia-a-dia, as relevâncias, as estratégias, um olhar mais crítico. Você está indo para se doar, mas é um funcionário. É preciso entender até onde vai o meu conhecimento, até onde o Terceiro Setor pode contribuir comigo, até onde estou mudando e impactando a vida de pessoas que estão em vulnerabilidade social, econômica e psicológica. Tem que entender todo esse  processo.

O Terceiro Setor desenvolve e precisa de pessoas com uma comunicação mais abrangente, com uma variedade de atividades, um profissional com habilidades diversas. Os profissionais que eu vejo recém-formados dizem “ah, eu gosto do Terceiro Setor”, mas não entendem que precisam ter um olhar multissetorial. Não adianta falar só sobre saúde, mas também sobre educação, moradia, renda, cidadania, tem que entender o mecanismo que há por trás do Terceiro Setor, pois requer muito preparo, humanização do processo. Além de tudo isso, tem que demonstrar paixão. Porque a gente lida com pessoas, animais, causas ambientais. Tem que ser apaixonado. Porque vão ter dias que você vai estar sobrecarregado, dias que vai querer largar tudo, como em qualquer emprego, mas acaba lembrando para quem trabalha, para quem está direcionando todos os seus esforços. Isso muda o seu olhar, sua perspectiva e sua pretensão, seu plano de vida, porque você está fazendo parte de uma engrenagem maior, que é a mudança de vidas, mudança de pessoas, mudança de animais, mudança de cuidados.

É sempre bom criar uma rede de contatos, aprender sobre sustentabilidade financeira, que é um diferencial. Isso é um combo de uma dica para um bom profissional que está entrando agora no Terceiro Setor. E vá com toda a paixão do mundo, porque é isso que o Terceiro Setor precisa. Pessoas engajadas, pessoas apaixonadas conseguem mudar o mundo. Sempre busque o que você ama. Vá com “paixão nos olhos” como eu tenho há mais de cinco anos dentro do Terceiro Setor.




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