terça-feira, 28 de março de 2023

Especializações em Comunicação que contribuem para a cultura e memória da comunidade

 

As especializações podem criar conexões e inspirações para quebrar estigmas e preconceitos para que surjam mais iniciativas sociais. / Divulgação.

"Nunca é demais lembrar que o homem é um ser social, que constrói a si próprio ao mesmo tempo em que constrói, junto com os outros homens, a sociedade e sua história."

A citação acima, do livro Gerenciando conhecimento, de Jayme Teixeira Filho, se encaixa perfeitamente ao perfil do jornalista, fotógrafo, escritor e professor Thiago Kuerques.

Formado em Turismo (UFRRJ), Jornalismo (UNESA), Letras (UFF), pós-graduado em Turismo Sustentável (CEFET) e mestrando em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias (UERJ), Thiago vê em suas especializações uma oportunidade pra registrar, contar e valorizar a memória de seu bairro, Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Atualmente, realiza estágio na Escola Municipal Padre Agostinho Pretto, em Nova Iguaçu, como professor de literatura e incentivo à leitura e produz oficinas de escrita sensível, escrita criativa e escrita periférica. Thiago é assessor de imprensa na EncontrArte Audiovisual e jornalista no Site da Baixada.

Também é autor dos livros Território (2017), A Balada do Esquecido (2018), A Próxima Pandemia (2019), Tordesilhas (2021) e Vezenquando (2022), entre outras antologias. Conquistou prêmios literários, entre os quais Prêmio Baixada e Prêmio Trema 2021 e 2022.


Confira, a seguir, como a formação em jornalismo e o mestrado estão contribuindo para a construção de sua própria história e de sua comunidade.


Gecom: Como a formação acadêmica na área de jornalismo colabora para o profissionalismo da Comunicação no Terceiro Setor?


Thiago Kuerques: Sou nascido em 1985, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. É o meu tempo e lugar no mundo. Família de classe média com inúmeras dificuldades financeiras e emocionais. Meu caminho é pelas artes, pelo conhecimento e pelas relações sociais. Estudar a comunicação é uma das ferramentas para colaborar com o enaltecimento e organização dessa casa ainda desorganizada. Em outras palavras, me especializar é criar formas, conexões e inspirações para que aqui - ou ser daqui - possa ser menos difícil, seja o sonho que exista em qualquer pessoa.

Profissionalizar a Comunicação especificamente no Terceiro Setor ajuda a quebrar estigmas, preconceitos e faz com que mais iniciativas possam aparecer. Um país com tantos talentos, tanto material e tanta arte não pode ter tantas dificuldades como tem o Brasil.


Jornalista, professor e autor de livros sobre pessoas, memórias, educação e comunicação de um subúrbio melhor. / Divulgação.



Gecom: O que o motivou e quais são suas expectativas com o mestrado em Comunicação em Periferias Urbanas?


Thiago Kuerques: O mestrado surgiu de uma inquietação: como um lugar que teimo em tentar valorizar, com população maior que o Uruguai e tantos outros países, com efervescência cultural, não se entende, não possui um veículo grande de comunicação e fica refém do que oferecem vindo da capital? Às vezes, migalhas. Se há uma mínima cobertura positiva falam "Hoje tem Baixada no RJTV, vamos ver".

Não pode ser algo isolado. Sem contar a memória social que é algo que me incomoda muito. Muita gente não sabe de onde veio, a história do seu bairro, da sua cidade. Há uma constante sensação de ineditismo por dois motivos: por ausências, muita coisa ainda está sendo realizada pela primeira vez; por falta de conhecimento e arquivamento de memória, poucas sabem o que já existiu na região.

Acredito que o caminho é longo. É um trabalho como cidadão também, não apenas como comunicador, escritor, professor e pesquisador. Seja através das histórias que conto no Site da Baixada, nas aulas que faço ou na literatura, tudo é social e tudo contribui. Penso em realizar, por exemplo, alguma forma nova de comunicação que impacte de verdade as pessoas da Baixada Fluminense. Também penso em fazer projetos que me permitam doar livros com frequência, por exemplo. Que não seja só com livros, mas com música, dança, educação. Comunicar a Baixada Fluminense para a própria Baixada Fluminense. Sem atravessadores, sabe?


O mestrado em Comunicação faz o jornalista e professor vislumbrar uma valorização da identidade e território na Baixada Fluminense. / Divulgação.



Gecom: Conte sobre como são as palestras de incentivo à leitura que você realiza em bibliotecas comunitárias e escolas públicas.


Thiago Kuerques: As minhas palestras em bibliotecas comunitárias começaram lá em 2017 com a rede Baixada Literária, em Nova Iguaçu. Através da Mônica Verdam, uma das líderes dessa rede, grande personalidade e que já está marcada na história de tanta gente, fui apresentado a bibliotecas estabelecidas em casas clássicas de subúrbio, todas descentralizadas.

Bibliotecas em Vila de Cava, Santa Rita, Ponto Chic, Jardim Primavera, Morro Agudo, Austin, Rancho Fundo e Bairro Amaral, por exemplo, habitam locais com pouca ou nenhuma presença de equipamentos culturais. Mesmo que minha literatura seja madura, falo com crianças e adolescentes sobre autoestima através da arte, importância da leitura com paralelos mais realistas que algum imaginário romântico da literatura. Livro é saúde, vida, sobrevida e oportunidade. Toda vez que visitei uma biblioteca comunitária dando palestra ou oficina achando que estava ensinando, acabei aprendendo muito mais. Já reencontrei gente que era muito nova quando visitei em 2017 alguma biblioteca. Adolescente que trilha o caminho do sonho da universidade, por exemplo. Isso se deve a vários fatores complexos e também à existência de uma biblioteca comunitária com livros acessíveis, múltiplos. Iniciativa privada e social.


Thiago realiza oficinas e palestras de incentivo à leitura e à escrita na Baixada Fluminense. / Divulgação.



Gecom: Fale sobre seu último livro, o romance Tordesilhas. De onde vem sua inspiração para escrever seus livros? Tem alguma nova obra em mente?


Thiago Kuerques: Tordesilhas é meu último livro físico, uma novela (ou romance) sobre a relação de pai e filha com idas e vindas emocionais, lúdicas e realistas durante uma vida inteira num bairro sereno de Nova Iguaçu. Minha inspiração veio da vontade de fazer prosa poética com o tema paternidade, usando literatura, sociologia e educação como fios condutores. É um livro bonito, inspirador, engraçado e representa o que é ser sonhador e apaixonado pela vida mesmo com dificuldades naturais de ser periférico.

Escrevi recentemente o livro Vezenquando, um ensaio sobre o ano de 2022 usando estudos que faço, reflexões sobre o cotidiano e pequenas ficções. Tudo com uma perspectiva otimista. Talvez seja um livro que eu tenha feito para minha versão mais sombria, uma forma de me convencer de que a depressão pode ser encarada de formas mais sensíveis e que assim é possível seguir vivo.

Sou um escritor que tem mil histórias e muitos rios narrativos coexistindo sempre. Talvez venha um novo romance sobre dois sujeitos de idades muito distintas em busca de seus lugares no mundo, cada um à sua maneira. Ou um livro de crônicas (já que escrevo para dois sites: Recorte Lírico e ArtCult). Ou um livro de contos, gênero pelo qual sou apaixonado. Nunca sei, nunca saberei. Quando dobrar a esquina, tem algo novo brilhando por aí sem jamais esquecer de cada obra que me trouxe até aqui.


Thiago Kuerques e seu último livro Tordesilhas, que narra a relação entre pai e filha em uma realidade vivida em Nova Iguaçu. / Divulgação.



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