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| Laura Maria, a Laubruta, une seus conhecimentos em publicidade e experiência na cultura urbana e periférica para promover a transformação social. / Crédito: qgnectarpark |
Ir além de promover o consumo ou a venda de produtos, a publicidade aplicada no terceiro setor gera impactos sociais positivos e transformadores. O desejo de transformar realidades locais por meio da comunicação, experimentando, construindo e fortalecendo iniciativas sociais e expressões periféricas, impulsionam a publicitária Laura Maria, a “Laubruta”, em seus trabalhos na Fundação Gol de Letra e na agência de entretenimento Néctar Park.
Cria de projetos (Laura foi aluna da Fundação Gol de Letra quando tinha 10 anos) e "cria da fruta no Caju" (como ela mesma gosta de lembrar), sua trajetória é inspiradora e mostra como a comunicação e a cultura unidas podem criar impacto positivo no terceiro setor.
Além de publicitária formada pela Universidade Estácio, Laura é pós-graduada em Marketing Digital, Tecnologia e IA na Facha. Foi aluna do Projeto Brota (iniciativa do Sesc Rio, que capacita jovens na produção cultural independente). Agitadora cultural e captadora de recursos na Fundação Gol de Letra, desde 2022, Laura é cocriadora do Néctar Park, no Caju, onde cria projetos que potencializam artistas, coletivos e espaços culturais, explorando conexões criativas e narrativas autênticas. Leia a entrevista completa e inspire-se!
Gecom: O que te motivou a se formar em publicidade e se tornar uma profissional de comunicação no terceiro setor?
Laura Maria: Desde a infância, minha relação com a comunicação começou de forma muito orgânica. Fiz parte da Testemunhas de Jeová em que o uso da comunicação pública, da oratória e da argumentação persuasiva era central. Foi ali que despertei meu interesse por falar com pessoas, construir narrativas e compreender como as palavras podem mobilizar, convencer e gerar pertencimento. Aos 17 anos, durante o pré-vestibular que realizei na Fundação Gol de Letra, tive contato durante uma semana de imersão com profissionais de diferentes áreas, que compartilhavam suas trajetórias e experiências no mercado de trabalho. Esse momento foi decisivo. Compreendi que a comunicação poderia ser um caminho profissional possível e potente para mim. A partir disso, comecei a pesquisar sobre jornalismo e publicidade, e foi na publicidade que me encantei de vez. Entendi como ela influencia comportamentos, dita tendências, molda imaginários e movimenta massas, atuando diretamente na engrenagem do capitalismo. Ao mesmo tempo, percebi que esse mesmo poder poderia ser tensionado e ressignificado. Escolhi atuar no terceiro setor justamente por acreditar que a publicidade não precisa servir apenas ao consumo, mas também pode ser uma ferramenta estratégica de transformação social, amplificação de vozes historicamente silenciadas e fortalecimento de iniciativas coletivas que disputam narrativas e futuros mais justos.
Gecom: Como você passou a fazer parte da Fundação Gol de Letra?
Laura Maria: Minha relação com a Fundação Gol de Letra começa muito antes da minha atuação profissional. Fui cria do projeto, participei das atividades enquanto jovem e tive uma base fundamental de formação, escuta e acesso a oportunidades. Após me formar, retornei à Fundação de forma espontânea, com o desejo de revisitar esse espaço que marcou minha trajetória, reencontrar pessoas, compartilhar como estava minha vida e trocar experiências com a galera que seguia por ali. Esse reencontro acabou abrindo caminhos inesperados: a equipe conheceu meu percurso profissional, minhas habilidades em comunicação, e surgiu a oportunidade de ocupar uma vaga que estava disponível naquele momento. Assim, minha entrada na Fundação Gol de Letra como profissional aconteceu de forma muito orgânica, atravessada por afeto, pertencimento e pelo desejo de devolver, por meio do meu trabalho, tudo aquilo que um dia também recebi.
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| Cria do Caju, Laura, por meio do Néctar Park, traz visibilidade aos artistas, coletivos e espaços culturais do território. / Crédito: qgnectarpark |
Gecom: De que forma a comunicação contribui para os resultados da Fundação?
Laura Maria: A comunicação é um eixo estratégico para o funcionamento e a sustentabilidade da Fundação Gol de Letra. É por meio dela que a instituição constrói narrativas, dá visibilidade às suas ações, fortalece vínculos com a comunidade, mobiliza apoiadores e garante a continuidade de seus projetos. Uma comunicação bem estruturada contribui diretamente para a captação e fidelização de doadores, para o engajamento de parceiros e para a transparência das ações desenvolvidas. Além disso, ela é fundamental para traduzir dados, projetos e metodologias em histórias compreensíveis e sensíveis, capazes de gerar identificação, confiança e participação. No contexto da Fundação, a comunicação também cumpre um papel político e social: valoriza as vozes dos participantes, rompe estigmas sobre territórios periféricos e disputa narrativas, mostrando que educação, cultura e esporte são ferramentas reais de transformação coletiva. Assim, a comunicação não atua apenas como divulgação, mas como uma ponte entre a Fundação, a sociedade e as pessoas que acreditam e investem neste trabalho, potencializando resultados e garantindo sua permanência ao longo do tempo.
Gecom: Em sua opinião, quais são os desafios da comunicação no terceiro setor e quais seriam as soluções para resolvê-los?
Laura Maria: Um dos principais desafios da comunicação no terceiro setor é a limitação de recursos financeiros, humanos e técnicos, o que muitas vezes coloca a comunicação em um lugar operacional, e não estratégico. Soma-se a isso a dificuldade de disputar atenção em um cenário dominado por grandes marcas, narrativas hegemônicas e pelo excesso de informação. Outro desafio importante é evitar abordagens assistencialistas ou estereotipadas, que reforçam visões simplificadas sobre pobreza, periferias e populações historicamente marginalizadas. Comunicar sem reduzir pessoas a números ou a histórias de sofrimento exige cuidado ético, escuta ativa e participação dos próprios sujeitos na construção das narrativas. Há também o desafio da mensuração de resultados, já que nem sempre os impactos sociais são imediatos ou facilmente quantificáveis, o que dificulta demonstrar valor para financiadores e parceiros. Como soluções, acredito no fortalecimento da comunicação como área estratégica dentro das organizações, integrada desde o planejamento dos projetos. Investir em formação continuada das equipes, em processos colaborativos e no uso inteligente de dados e indicadores pode ampliar a eficiência e a credibilidade da comunicação. Além disso, a produção de narrativas mais humanas, plurais e verdadeiras, construídas junto com a comunidade, aliada ao uso criativo das plataformas digitais, ajuda a ampliar alcance, engajamento e confiança. Assim, a comunicação no terceiro setor deixa de ser apenas uma ferramenta de divulgação e passa a ser um instrumento de incidência, mobilização e sustentabilidade institucional.
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| Sempre atualizada e em constante aprendizado, Laura acredita que o investimento em formação continuada das equipes pode tornar a comunicação no terceiro setor mais eficiente. / Crédito: qgnectarpark |
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