sábado, 23 de setembro de 2017

Comunicadora comunitária recebe Medalha Pedro Ernesto




Gizele Martins recebe certificado do vereador Renato Cinco em reconhecimento pela sua luta e resistência nas favelas.
Dia de muitas emoções e homenagens a uma das maiores comunicadoras comunitárias do Rio. Gizele Martins recebeu, no último sábado (16), a Medalha de Mérito Pedro Ernesto, a principal Comenda da cidade do Rio de Janeiro, no Museu da Maré, pelo vereador Renato Cinco (PSOL).

A entrega da medalha ocorreu dentro de “sua casa” (o Museu da Maré), como ela mesma gosta de frisar, por ser ali o espaço em que aprendeu a ser uma cidadã atuante, uma pessoa que mobiliza as outras, alguém que aprendeu a defender e a lutar por seus direitos e pelos direitos de outras pessoas, uma mulher que descobriu em si o que é fazer, na prática, comunicação comunitária.

Momento de entrega da Medalha de Mérito Pedro Ernesto, a principal Comenda da cidade do Rio de Janeiro.

“Quando a gente faz uma homenagem à Gizele, estamos fazendo uma homenagem às favelas e toda a luta e resistência que existe dentro das favelas. Então, acho que não fazia sentido tirar essa homenagem daqui. Quando a gente vem pra cá homenagear a Gizele, a gente está homenageando toda a Maré e todas as favelas do Rio de Janeiro”, explicou o vereador ao contar o porquê da cerimônia não ter sido realizada dentro da Câmara Municipal, como habitualmente é feito.

A homenagem contou com a participação de diversos moradores do Complexo da Maré, Acari, Vila Autódromo, Duque de Caxias, entre outras comunidades, além de representantes, líderes e companheiros de movimentos e lutas populares, jornalistas comunitários, estudantes de comunicação, parentes, amigos, amigas e outros admiradores de seu trabalho.

“Eu agradeço muito por essa homenagem. Agradeço por esse momento. São muitos anos de luta, resistência, tristeza, corrida de caveirão, corrida de tanque de guerra, subindo e descendo o morro. E aí, estou muito feliz em estar aqui vendo a cara do povo e toda essa diversidade”, conta Gizele Martins.

A comunicadora comunitária não nega suas raízes, nem mesmo quando teve que frequentar as instituições acadêmicas de classe média alta, onde enfrentou e venceu vários preconceitos, até se tornar uma legítima jornalista. “A favela não vive, ela sobrevive. A gente não tem que ter vergonha e dizer “eu sou favela”. Quem tem que ter vergonha são eles, que não nos respeitam”, diz.

“Comunicação é algo que se faz “com” e não “para”. Eu quero que o outro lute comigo e não para mim, porque tem muitos que querem lutar pelo outro, mas não luta com o outro e essas coisas são muito diferentes”, explica.

“O Museu está muito feliz, porque realmente a gente vê o quanto esse espaço de uma construção coletiva está sendo importante para receber uma homenagem para uma pessoa que está aqui nessa luta, trilhando esse caminho. A gente tem que unir forças, mesmo”, discursou a coordenadora do Museu da Maré, Claudia Rose.

Claudia Rose ressaltou a importância e a participação da homenageada em unir forças pelos direitos nas favelas.
O professor do Pré-Vestibular do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm), Leon Diniz se emocionou ao falar sobre a trajetória da homenageada. “A Gizele quando chegou lá tinha uma dificuldade imensa em escrever. A gente podia destruir ou construir. Ela ia no pré-vestibular e não desgrudou mais. Então, a gente foi caminhando, construindo junto e hoje a gente se encontra onde tem que se encontrar, na área e nos encontros de direitos humanos”, conta.

Leon Diniz contou sobre a experiência e o crescimento no tempo em que Gizele Martins esteve no Ceasm.
A jornalista comunitária da Maré, Thaís Cavalcante, falou sobre a representatividade da Gizele em sua vida. “Eu me sinto representada pela Gizele como jornalista comunitária, moradora, lutadora e resistente de tantas coisas. Ela não ensina, ela faz com você, ela está ao seu lado, te ensinando com o corpo, com a voz, com a fala, com a história de vida mesmo. Você aprende”, conta Thaís, que há cinco anos trabalhou no jornal da Maré, O Cidadão, junto com Gizele.

Thaís Cavalcante discursou sobre o aprendizado que teve com Gizele quando produziam o jornal "O Cidadão".
Antes da homenagem, houve mesa de debate com o tema “Militarização da vida e resistência nas favelas cariocas”, com a participação da doutora em comunicação e cultura e comunicadora popular, Renata Souza, a trabalhadora ambulante, Maria dos Camelôs, a integrante do Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura, Patrícia Oliveira e a coordenadora da Justiça Global, Glaucia Marinho. Em seguida, o Grupo Atiro e MaréMoTO (núcleo do Teatro do Oprimido da Maré) se apresentaram, antecipando a cerimônia. O show do grupo Som de Preta encerrou a noite de sábado, que ficará registrado na memória da Maré e de todos aqueles que estiveram presentes.

Medalha de Mérito Pedro Ernesto

A Medalha de Mérito Pedro Ernesto foi criada através da Resolução nº 40, em 20 de outubro de 1980. Ela é a principal homenagem que o Rio de Janeiro presta a quem mais se destaca na sociedade brasileira ou internacional. Recebeu esse nome em reconhecimento ao trabalho do prefeito Pedro Ernesto, e por isso sua figura é estampada nas duas Medalhas que fazem parte do Conjunto. Uma presa ao colar, e a outra para ser colocada na lapela do lado direito do homenageado. Ambas são presas em uma fita de cores azul, vermelha e branca que são as cores da bandeira da cidade.


Confira o momento da homenagem, publicado por Maré na TV, no link abaixo.




Admiração por sua trajetória e ensinamentos em comunicação comunitária. (Créditos: Reinaldo Cunha/Maré na TV)
Camisas que simbolizam a trajetória de Gizele Martins na luta pelos direitos humanos e por uma comunicação democrática.
Familiares estiveram presentes para prestigiarem a celebração no Museu da Maré.
Público compareceu em grande número para registrar um momento importante para a comunicação nas favelas.

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