terça-feira, 27 de abril de 2021

A importância da comunicação de causas das ONGs

Arquivo pessoal


Colocar em pauta um tema que possa mobilizar e influenciar os diferentes tomadores de decisão com a proposta de mudar uma realidade é o propósito da comunicação de causas. A jornalista e sócia-diretora da Agir Comunicação, Maria Gabriela, 46 anos, formada em jornalismo pela Universidade Gama Filho (UGF) e pós-graduada em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é apaixonada por comunicar boas ações e possui experiência na divulgação de causas infantis, como educação e cultura. Esteve à frente na divulgação de instituições sociais que trabalhavam com as causas infantis da doença renal crônica e fissura labiopalatina. Além de ser assessora de imprensa e de comunicação, Maria Gabriela trabalha voluntariamente como evangelizadora infantil no Lar Paulo de Tarso, em Copacabana, entidade mantenedora da ONG-Escola Solar Meninos de Luz.

Nesta entrevista, ela compartilha seus conhecimentos sobre a importância da comunicação de causas e o papel essencial dos comunicadores como “porta-vozes da ONG em sua vida pessoal”.

Gecom: Conte um pouco sobre sua trajetória de jornalista e assessora de comunicação em ONGs.

Maria Gabriela: Sempre me interessei por conhecer as histórias de vida das pessoas. Posso estar em uma fila ou no táxi, por exemplo, e logo puxo conversa e começo a “apurar”. Minha mãe diz que cresci “perguntadeira”, sempre querendo saber de todos os detalhes das histórias que ouvia. Uma amiga minha brinca que bastam cinco minutos de viagem para eu saber sobre a vida do motorista do aplicativo. Além disso, meu olhar e coração sempre se conectaram com trabalhos voltados para a infância.

Antes de ingressar na faculdade de jornalismo, fiz o antigo curso Normal (Ensino Médio) e comecei a dar aulas como professora da educação infantil durante sete anos no Colégio Nossa Senhora da Piedade, que ficava perto da UGF. Só comecei a trabalhar efetivamente na área de comunicação depois que terminei a faculdade. Imagina uma pessoa que gosta de se comunicar, mas era tímida! Seguir a carreira foi importante para mudar isso em mim.

Logo que terminei a faculdade, parei de dar aulas e comecei a trabalhar como assessora de imprensa. Trabalhei em duas agências de comunicação atendendo os mercados de beleza e gastronomia. Me especializei e, em meados dos anos 2000, abri minha agência com foco nessas áreas e na de saúde.

Tudo começou a mudar quando iniciei um sonho que me acompanhava desde que saí do magistério para o jornalismo: trabalho voluntário com crianças. A partir daí, naturalmente, comecei a seguir o caminho do terceiro setor. A pós-graduação em responsabilidade social me ajudou a ampliar o conhecimento e comecei a trabalhar com ONGs, o que me fez mudar o nome da minha agência para Agir Comunicação. Sem ação, não há transformação.

Gecom: Quais causas você já trabalhou como comunicadora e quais habilidades você teve que desenvolver ou colocar em prática para desenvolver as ações de comunicação nesses lugares?

Maria Gabriela: Acredito que só conseguimos comunicar de forma transparente quando nos envolvemos verdadeiramente com a atuação da ONG, com as pessoas que trabalham nela e, principalmente, com as famílias que ali estão. O comunicador, primeiro, tem que desenvolver a comunicação com as pessoas que fazem parte do contexto para depois pensar em expandi-la, a fim de alcançar novos apoiadores, voluntários, patrocinadores, doadores.

A comunicação é uma ferramenta importantíssima para alcançar novos olhares, mas somente com empatia e afeto conseguimos conectar pessoas às causas sociais. Nós, comunicadores, temos que agir e divulgar com responsabilidade.

Já trabalhei com a Fundação do Rim e SmileTrain, divulgando as causas infantis da doença renal crônica e fissura labiopalatina, respectivamente. Atualmente, trabalho em projetos de cultura, assistência social, evangelização espírita e educação, todos infantis. A ONG-Escola Solar Meninos de Luz e a Associação das Creches Conveniadas (Acreperj) são nossas causas da educação que me fazem lembrar da época que dei aula para crianças. Além de trabalhar com a divulgação nos canais de comunicação, estou começando a escrever histórias infantis baseada nas vivências que tive e tenho. Sempre pensei que um dia conciliaria o jornalismo com o universo infantil, e consegui.

O Solar atende crianças e famílias do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, comunidades que ficam em Copacabana e Ipanema, oferecendo  educação integral a 430 crianças e em 2021 completa 30 anos. Já a Acreperj é uma associação de creches conveniadas à Prefeitura do Rio, abrangendo todo o município, criada para unificar e representar as 193 creches conveniadas.

No Solar Meninos de Luz sou assessora de imprensa e na Acreperj sou assessora de comunicação (a Agir cuida das redes sociais e da divulgação na imprensa).

Aula de evangelização infantil


 

Gecom: Como um assessor de comunicação pode contribuir para uma ONG divulgar a causa que ela defende, principalmente se for uma questão ainda de pouco conhecimento pelo público?

Maria Gabriela: Não é só uma questão de ter uma boa rede de contatos, um bom texto, emplacar matérias nos canais de comunicação. Primeiro, temos que acreditar no trabalho que a ONG realiza. Depois, nos envolvermos. Assim, vamos conseguindo transmitir a importância do trabalho realizado pela ONG. E, mais do que conseguir espaços editoriais e relevância na web, precisamos, também, conquistar quem está perto de nós, como familiares, amigos, colegas de trabalho, para a causa. O assessor de comunicação precisa ser o porta-voz da ONG em sua vida pessoal, também. Pelo exemplo, impactamos muitas pessoas.

Gecom: O que você recomenda aos profissionais de comunicação antes de iniciarem um trabalho em uma causa que eles desconhecem?

Maria Gabriela: Que conheçam a essência do trabalho que será realizado e se identifiquem com a causa, tendo sempre em mente que nosso trabalho vai ajudar a mudar vidas. Não podemos ser frios e distantes. Mesmo nesse momento de pandemia, com boa parte do trabalho sendo feito à distância, o trabalho tem que nos tocar. Nunca vou deixar de me emocionar ao ouvir as histórias de superação, de me arrepiar com uma apresentação artística ou com a apuração feita com o gestor do projeto, por exemplo. Porque essa emoção é o fio condutor de todo o meu processo para comunicar bem...o bem.

Arquivo pessoal
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